O grande fato político deste dia de segundo turno das eleições foram as blitze da Polícia Rodoviária Federal nas estradas, segurando ônibus que transportavam eleitores em ações concentradas na região Nordeste. É o que apontam jornalistas da Folha reunidos em live da TV Folha neste domingo (30).
Foram 612 operações em veículos, conforme afirmou Camila Mattoso, diretora da sucursal de Brasília da Folha, cerca de metade delas em estados nordestinos. O repórter especial Fernando Canzian lembrou que havia uma determinação do Tribunal Superior Eleitoral para que não houvesse operações do tipo, uma decisão descumprida pelo diretor-geral da PRF, aliado do presidente Jair Bolsonaro.
O episódio, diz Mattoso, evidencia a escalada de desconfiança nas instituições durante o governo Bolsonaro. “O diretor da PRF colocou nas redes sociais pedido de votos para Bolsonaro, depois deletou. A fragilização das instituições durante o governo coloca em dúvida a finalidade pela qual esses ônibus foram parados.”
O bolsonarismo tem dito que a PRF cumpre apenas sua função de fiscalizar rodovias e impedir transporte irregular de eleitores, mas segundo afirmou o colunista Bruno Boghossian, os apoiadores do presidente vinham ventilando seu objetivo de reduzir a vantagem de Lula no Nordeste, e um dos métodos aventados era ampliar a abstenção.
“Aumentar a abstenção pode ser uma jogada normal, não muito nobre, mas só quando isso é feito por meio de discurso, desmotivando eleitores de Lula a irem às urnas”, disse Boghossian. “Usar a polícia é fraude, abuso de poder. Isso não é normal, e sim corrupção das regras do jogo.”
“O bolsonarismo vai conseguindo achar seus caminhos por meio da máquina pública”, apontou Zanini. “Nunca ninguém prestou muita atenção na PRF, mas na Polícia Federal, na Abin, e a boiada foi passando. A PRF foi virando a grande máquina bolsonarista na administração pública.”
Ele lembrou ainda que há menos gente trabalhando para que votantes vão às urnas, porque em diversos estados só há eleição para presidente, com menos incentivo para que as pessoas saiam de casa.
É impossível, contudo, cravar os efeitos das ações da PRF antes que os dados de abstenção sejam conhecidos na apuração, ainda que o PT já diga que houve perda irreparável de votos.
“Se Lula vencer a eleição, o assunto morre”, apontou Zanini. “Se Bolsonaro vencer e de fato houver abstenção maior que o normal no Nordeste, pode haver judicialização por parte do PT. Precisa ver qual foi efetivamente a escala.”
Canzian afirmou ainda que a última semana de campanha foi marcada por uma “tempestade perfeita” contra Bolsonaro, candidato à reeleição que viu episódios negativos envolvendo Carla Zambelli e Roberto Jefferson, seus aliados de primeira hora, destacados no noticiário.
“São casos de violência armada ligados diretamente à plataforma política eleitoral de Bolsonaro”, apontou Boghossian. “O eleitor convicto de Bolsonaro não vai ser abalado por esses atos, o voto mais consolidado encontra justificativas para não trocar de candidato. Mas a fatia de eleitores que ainda pensava em mudar de voto talvez fique menos animada para votar nele.”
A TV Folha realiza neste domingo, até as 21h50, uma programação especial ao vivo sobre as eleições 2022. Jornalistas e colunistas da Folha vão comentar o resultado das urnas e debater economia, voto feminino e a imagem do Brasil no exterior.
Todos os vídeos serão transmitidos pelo canal da Folha no YouTube (www.youtube.com/folha).
Veja as próximas lives da TV Folha neste dia de segundo turno
18h – Mulheres nas campanhas e voto feminino
Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha
Eliane Trindade, editora da Folha Social+
Angela Boldrini, repórter da Folha
Catia Seabra, repórter especial da Folha
19h – Como o mundo vê o Brasil com Lula e com Bolsonaro
Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha
Denise Mota, colunista da Folha
Giuliana Miranda, correspondente em Lisboa
Amâncio de Oliveira, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP
20h – A crise econômica e o aumento da desigualdade
Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha
Michael França, colunista da Folha
Muniz Sodré, colunista da Folha
Alexa Salomão, repórter especial da Folha
21h – O novo Congresso e a governabilidade possível
Fernando Canzian, repórter especial da Folha
Ranier Bragon, repórter da Folha em Brasília
Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha
Mônica Bergamo, colunista da Folha