Candidatos ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) disputam hoje o Palácio dos Bandeirantes em meio a uma campanha ofuscada pela corrida presidencial entre seus respectivos padrinhos políticos: Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ao longo do segundo turno, os dois trocaram acusações envolvendo Lula e Bolsonaro e deixaram temas estaduais em segundo plano, discutindo questões de âmbito federal, como a valorização do salário mínimo, vacinação e outras questões que opuseram seus padrinhos na corrida ao Planalto.
A última pesquisa Datafolha, divulgada ontem, apontou vitória de Tarcísio com 53% dos votos válidos, contra 47% de Haddad. No Ipec, a diferença foi de 4 pontos: 52% para Tarcísio e 48% para Haddad.
Paraisópolis em foco. O assunto de maior tensão na campanha entre os dois adversários foi o episódio do tiroteio durante uma agenda de Tarcísio na comunidade de Paraisópolis, na capital paulista.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que um integrante da equipe de Tarcísio mandou um cinegrafista apagar as imagens feitas durante o tiroteio. Já o site The Intercept Brasil publicou que o membro da equipe do candidato é um agente licenciado da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e que uma pessoa da campanha de Tarcísio atirou e matou um homem desarmado na comunidade.
No último pronunciamento feito à imprensa, na tarde de ontem, Haddad acusou a campanha de Tarcísio de expor o cinegrafista que fez os registros. O candidato do Republicanos, por sua vez, disse que o pedido para que as imagens fossem deletadas foi feito para preservar a segurança das pessoas do local.
“Ele quis preservar a imagem em Paraisópolis, mas expôs quem fez a denúncia”, declarou o petista.
Haddad explorou o episódio em redes sociais e propagandas na TV, nas quais questionou “o que Tarcísio quer esconder de você?”
Sabesp e câmeras. A possível privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do estado de São Paulo) e a discussão sobre as câmeras nos uniformes de policiais militares foram os temas mais discutidos pelos candidatos no âmbito estadual e opuseram os dois.
Enquanto Tarcísio fala em discutir a privatização da companhia de saneamento se eleito, Haddad chegou a dizer que esta seria “a pior coisa que poderia acontecer ao estado” e que haveria aumento na conta de água caso isso acontecesse.
Já em relação às câmeras nas fardas de policiais, o candidato bolsonarista declarou que “com certeza” iria retirar os equipamentos, mas recuou uma semana depois. O petista, por sua vez, defende a manutenção do programa que, segundo dados, aumentou a proteção das tropas e diminuiu a letalidade policial.
Grande SP na mira. A região metropolitana de São Paulo virou o palco da disputa entre Haddad e Tarcísio na reta final. De 39 cidades da área, o petista obteve melhor desempenho que o adversário em 26 delas. Sozinha, a Grande SP corresponde a 47% do eleitorado paulista.
Tarcísio, por outro lado, teve um bom desempenho no interior e no litoral. Dos 645 municípios paulistas, ele obteve o melhor resultado em 500 —Haddad, em apenas 91.
A campanha petista entendeu que era melhor investir em locais onde Haddad se saiu melhor para fidelizar o eleitorado e atrair os indecisos —na visão da equipe, não valeria a pena buscar reverter a vantagem de Tarcísio no interior. A ideia era tentar recuperar o mapa de votação conquistado por Márcio França (PSB) em 2018.
Por isso, boa parte dos compromissos de campanha de Haddad no segundo turno foram na Grande São Paulo. Fora da área, ele visitou apenas cinco cidades: Campinas, Santos, Sorocaba, Presidente Prudente e Ribeirão Preto.
Tarcísio também concentrou seus compromissos na capital e na região metropolitana do estado para tentar virar o jogo contra Haddad.
A avaliação é de que o interior já está “calçado” — além de ter ganhado na maioria das cidades do estado, ele também conta com o apoio da maioria dos prefeitos.
Tarcísio tentou desgastar seu oponente criticando as fake news disseminadas pela campanha do PT —como a de que o ex-goleiro Bruno seria secretário do bolsonarista— e fez críticas a lideranças do partido que já foram presas, incluindo Lula.
O ex-ministro da Infraestrutura também disse que as ideias de Lula são velhas, que o PT “está preso há 40 anos na mesma”.
Contra Tarcísio, Haddad investiu em associá-lo a Bolsonaro e aos escândalos do governo federal: rachadinha, atrasos na compra de vacinas e às acusações de pedofilia contra Bolsonaro após viralizar um vídeo no qual ele diz que “pintou um clima” entre ele e garotas venezuelanas de 14 anos.
O petista também insistiu que Tarcísio não apresentou propostas para o estado, levantando sempre que possível o fato de o adversário ser do Rio de Janeiro e ter comparecido a apenas dois debates: o primeiro, da TV Band, e o último, da TV Globo. Durante várias agendas de campanha, Haddad dizia aos eleitores: “Estou procurando o Tarcísio, vocês viram ele?”
Desconhecido. Para rebater críticas de que a estratégia também foi adotada por Lula —que não participou do debate promovido pelo SBT—, Haddad argumentou que o ex-presidente já é conhecido do eleitorado.
“O Bolsonaro e o Lula são demasiadamente conhecidos pela população, o Tarcísio não é conhecido pela população de São Paulo. Nunca morou aqui, nunca se educou aqui, nunca educou os filhos aqui. Não é daqui”, disse Haddad durante uma visita a Poá.
Polarização já era prevista. Questionado ontem pelo UOL Notícias em seu último compromisso no segundo turno se as propostas para o estado não ficaram em segundo plano em meio à nacionalização da campanha, Tarcísio disse acreditar que houve oportunidades para discutir ideias para São Paulo.
“Era natural algum nível de polarização, vamos entender que o que acontece no Brasil vai ter reflexo em São Paulo (…) Quando você tem uma eleição tão disputada, é natural que polarizasse aqui também, a gente disse isso desde o início”, declarou.