Um dos maiores astros de Hollywood da atualidade, Dwayne “The Rock” Johnson gosta tanto de Adão Negro que lutou arduamente para que o personagem não fosse um mero antagonista de Shazam! (2019) e ganhasse um filme para chamar de seu. O desejo do ator foi atendido, e o primeiro longa do anti-herói chega nesta quinta (20) aos cinemas brasileiros de olho nos fãs –tanto das HQs quanto de The Rock.
Para quem não se encaixa em nenhum dos dois grupos, há pouco a se tirar de Adão Negro. A história do filme –se é que um fiapo de narrativa pode ser chamado assim– está ali apenas para amarrar as cenas de ação e de luta incessantes, essas sim as grandes protagonistas da produção. É como jogar Mortal Kombat ou Street Fighter: o game até pode apresentar algumas cutscenes, mas você quer mesmo é partir para o próximo combate.
Se você gosta de ação, o longa tem tudo para cair em suas graças. O diretor Jaume Collet-Serra (que repete a parceria com The Rock depois de Jungle Cruise) constrói cenas de cair o queixo, com tiros, raios e explosões que parecem saídos de uma produção de Michael Bay. E tudo ocorre em ritmo acelerado, para não dar tempo de o público refletir muito sobre o que está sendo mostrado –questionar se a trama é verossímil é, sinceramente, uma perda de tempo.
[Atenção: esse texto contém spoilers, cuidado para não azedar sua semana]
A história se passa em Kahndaq, um país muito pobre e subjugado pelos bandidos da Intergangue. A arqueologista Adrianna Tomaz (Sarah Shahi, de Sex/Life) tenta encontrar a coroa de Sabbac, um artefato que dá grandes poderes para quem a usa, antes que ela caia em mãos erradas. No processo, ela acaba invocando Teth-Adam (The Rock), que estava adormecido há 5 mil anos.
Apesar da superforça e de outras habilidades impressionantes, Adão Negro não é exatamente sutil. Seus embates com membros da Intergangue chamam a atenção de Amanda Waller (Viola Davis), que convoca a Sociedade da Justiça da América para pará-lo. Entram em cena Gavião Negro (Aldis Hodge), Senhor Destino (Pierce Brosnan), Ciclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (Noah Centineo), os grandes heróis da produção.
Obviamente, ninguém espera que um filme estrelado por Dwayne Johnson traga o ex-lutador como vilão, e Adão Negro faz um trabalho decente em estabelecê-lo como um anti-herói, que até luta por motivos nobres, mas com métodos nada convencionais –e que certamente não seriam aprovados por outros superpoderosos. Mas não demora muito até que uma ameaça ainda maior apareça e Adão Negro precise unir forças com a Sociedade da Justiça da América para confrontar o demônio Sabbac (Marwan Kenzari). E, claro, muitas outras lutas com efeitos especiais impressionantes acontecem para carregar a trama durante as duas horas do longa.
O maior problema de Adão Negro é também o seu grande atrativo: Dwayne Johnson. Não há dúvidas de que o ator é carismático, como ele já provou várias vezes em seus filmes. A questão é que Teth-Adam passa longe de ser um personagem simpático. Sempre com cara de poucos amigos e disposto a quebrar qualquer coisa que apareça em seu caminho (principalmente paredes), o anti-herói não é do tipo que conquista a torcida do público. O roteiro de Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani até tenta suavizá-lo com algumas piadas, mas não é o suficiente.
À exceção do Senhor Destino de Pierce Brosnan, a Sociedade da Justiça também não acrescenta muito à história. Ciclone e Esmaga-Átomo não têm muito o que fazer além de servirem como alívio cômico ou sugerirem um romance mais para a frente, e Gavião Negro é marrento demais para que os espectadores comprem o lado dos “mocinhos”. Também não ajuda a tentativa de crítica social que atormenta os heróis do longa, a ponto de os habitantes de Kahndaq vaiá-los sempre que aparecem.
No fim das contas, Adão Negro cumpre sua função de entreter o público durante 124 minutos de diversão despretensiosa. A produção descrita como uma mudança na hierarquia dos heróis da DC Comics não chega a esse ponto, mas se dá muito bem quando não tenta reinventar a roda. É um filme de super-herói com boas cenas de ação, e nada mais do que isso. No atual panorama da editora, ser apenas um bom entretenimento já parece bom o bastante.