Na Copa da Rússia, em 2018, bastavam dois ingleses se encontrarem para a música começar. O “It’s coming home” (está voltando para casa, em inglês) era o hino da campanha da equipe no Mundial. Significava que o troféu de campeão voltaria para a terra que inventou o futebol.
Quando a Inglaterra foi eliminada na semifinal pela Croácia, com um gol na prorrogação, os adversários não perderam tempo em zombar. O que se perdeu na interpretação foi o tom autodepreciativo da canção, uma ironia com os seguidos fracassos da seleção em torneios internacionais.
Desde 1966, o melhor resultado inglês em mundiais foi o quarto lugar. Aconteceu duas vezes: em 1990 e 2018. Na Eurocopa do ano passado, a equipe esteve ainda mais perto de um título de expressão. Foi à final, no estádio de Wembley, contra a Itália. Acabou derrotada nos pênaltis.
“Temos uma geração de jogadores com capacidade para ganhar a Copa do Mundo. Poderíamos ter ido à decisão em 2018, e contra a França, não sabemos o que poderia ter acontecido”, define o técnico Gareth Southgate.
A Inglaterra teve realmente oportunidades para derrotar a Croácia, especialmente com o que criou no ataque durante o primeiro tempo. Mas não soube aproveitar.
O torneio de quatro anos atrás foi um marco também porque o país exorcizou um trauma: a disputa de pênaltis. Pela primeira vez venceu desta forma ao eliminar a Colômbia nas oitavas de final.
A campanha também foi uma redenção para equipe que vinha de campanhas ruins na Copa. Em 2014, no Brasil, apesar de ter jogado melhor do que seus adversários nas três partidas da fase de grupos, perdeu para Itália e Uruguai e empatou com a Costa Rica. Terminou eliminada. Na África do Sul, em 2010, com um desempenho indigente, foi goleada pela Alemanha nas oitavas de final por 4 a 1.
Essa partida ficou marcada pelo gol não dado a Lampard. Ele chutou, a bola bateu no travessão e caiu depois da linha. O trio de arbitragem não viu. Uma vingança por lance idêntico em 1966, diante dos mesmos alemães, que ajudou a dar à Inglaterra seu único título de Copa.
“Pela primeira vez a Copa do Mundo não será no fim da temporada [europeia], quando os jogadores estão cansados e às vezes lesionados. Acredito que nossa equipe estará no auge. Espero ser chamado”, afirma o atacante Marcus Rashford, um dos integrantes do elenco de 2018, que deve estar presente de novo neste ano.
A Inglaterra está no Grupo B e estreia em 21 de novembro contra o Irã, no estádio Khalifa. Também estão na chave Estados Unidos e País de Gales.
Seria normal esperar uma classificação tranquila, mas é válido também lembrar sufocos anteriores que o time passou contra adversários de nível parecido. Em 2010, empatou com os norte-americanos por 1 a 1. Quatro anos antes, sofreu muito para derrotar Trinidad & Tobago por 2 a 0.
A base e o esquema serão parecidos com os mostrados na Rússia. O ponto principal do ataque continuam a ser os gols de Harry Kane, o principal jogador do país. Os receios quanto à confiabilidade do goleiro Jordan Pickford persistem, assim como a incógnita que é o zagueiro Harry Maguire.
Mas neste ciclo novos jogadores surgiram. É factível esperar que Jadon Sancho e Bukayo Saka sejam convocados e até escalados como titulares.
Southgate variou, no período, entre 4-3-3 e 3-4-3. Formações que dependem muito da forma dos seus inconstantes laterais, como Trent Alexander-Arnold e Luke Shaw, muito mais eficientes no ataque do que na marcação.
Repetição da campanha da Rússia e nova eliminação na semifinal não deverá ser vista com a mesma empolgação pelo público inglês. Espera-se melhora. Isso significa, pelo menos, ir até a decisão do Mundial. Algo que não acontece há 56 anos.