Uma nova ordem mundial
Além disso, em consonância com casos já concretizados de coação eleitoral, Jovelci reafirmou a narrativa de que caso o ex-presidente Lula vença as eleições, acabariam os direitos à propriedade e o de ir e vir. Como exemplo, é claro, a situação de diversos países vizinhos como o Chile e a Argentina, onde recentemente a esquerda venceu as eleições, e a Venezuela, favorita para exemplificar conspirações oriundas da guerra fria, onde um suposto comunismo ameaçaria o Brasil.
“Isso que está acontecendo no Brasil é uma nova ordem mundial. Isso não é de agora. Foi um programa que veio há tempos e inclusive deram um xeque-mate no rei do mundo que eram os Estados Unidos do Trump”, declarou Gomes. Na sequência ele agradece os empresários presentes e lembra que na cidade 40% dos votos foram para a chapa petista. “Temos que virar esse jogo”, disse.
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A partir daí o empresário começa a elencar uma série de medidas estratégicas para o dia das eleições. Entre elas, pediu 300 pessoas fiscalizando as seções eleitorais em nome do empresariado da cidade. “Não estamos defendendo o Bolsonaro. Nós temos que defender o nosso Brasil”, afirmou. “E o que temos que fazer? Cada um de nós deve fazer um ‘trabalhozinho’ nas nossas empresas, nas nossas casas, nos nossos colégios. Vocês não imaginam o que será uma esquerda no Brasil. O setor imobiliário todo vai quebrar. O setor produtivo industrial e exportador vai ser destruído”, discursou.
Já Xico Stefanes, que foi candidato a vereador na cidade pelo PSDB em 2020, mas perdeu as eleições, defendeu que a “conversa” com os trabalhadores deveria ser feita no dia anterior do segundo turno para não dar margem para reações e punições aos empresários. “Tem que ser no último dia [antes das eleições], para o PT não ir depois tentar desmanchar o trabalho. Os empresários devem reunir os funcionários e não pedir voto, não precisa pedir voto, mas explicar que se a esquerda ganhar, vai ser igual a Venezuela. E jogar a responsabilidades pra eles se a família amanhã vai passar fome ou ficar comendo cachorro igual está ocorrendo na Venezuela. ‘Ó, os responsáveis são vocês, porque vocês têm o direito de mudar o voto’”, resumiu.
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Mais adiante, o presidente da associação se irritou com filmagens e gravações da reunião. “Tem gente aqui do PT gravando. Eu já sei, já tem dois aqui do PT gravando. Eu não vou pedir pra ele se retirar (sic) porque tenho educação, mas por favor. Se ele continuar gravando eu vou pedir pra ele se retirar daqui porque aqui é uma coisa nobre, aqui é muita seriedade. Eu estou aqui com o comandante da Polícia Militar e [quem grava] pode sair preso daqui porque eu acho que não é assim. Não é assim”, ameaçou.
A presença do Comando da Polícia Militar na reunião também é outro aspecto a ser questionado. É bem verdade que o major José Ronaldo Branco do 15° Batalhão da PM afirmou que não sabia a respeito do conteúdo da reunião e que a instituição é neutra e conduz a segurança e fiscalização de ambas as partes. No entanto, não há registros nos áudios de intervenções do agente em relação aos crimes eleitorais aqui descritos, tampouco de um possível abandono da reunião por parte do PM. Pelo contrário, ele chegou a elogiar a iniciativa em sua breve fala.
“Quando convidado não sabia do que se tratava o teor da reunião. Represento uma instituição que tem caráter público e de neutralidade, então assisto esse momento, doutor Jovelci, grato pela oportunidade mais uma vez, mas represento uma instituição que em dias de eleição e em épocas de pleito conduz a fiscalização de ambas as partes e se conduz com neutralidade e profissionalismo. Registro então, no melhor sentido da expressão, do alto da neutralidade com a instituição do tamanho que a polícia militar que é oportuna a iniciativa em nome da democracia. É importante que a comunidade organizada busque se reunir e fazer valer os seus pontos de vista, os seus ideais e aquilo que acredita ser melhor democraticamente, para todos os cidadãos que representam. Então muito obrigado pela oportunidade. A Polícia Militar permanece à disposição e clamo a todos os irmãos presentes que acima de tudo optem sempre pelo pelo correto. Busquem nessa empreitada conduzir-se eh pela legalidade,” declarou o policial militar em seu curto discurso de pouco mais de dois minutos.
Outro lado
A reportagem fez contato telefônico com a ACIC que, por meio do seu assessor de imprensa, afirmou que os áudios são “clandestinos” e que a direção da associação irá se reunir para emitir uma nota sobre a reunião. Tentamos contato com o candidato Xico Stefanes e com o deputado estadual Valdir Cobalchini, sem sucesso. Após as manifestações das partes, atualizaremos a matéria com as suas versões dos fatos.
Sobre a participação do Comando da PM na reunião, enviamos as seguintes perguntas para a Secretaria de Segurança de Santa Catarina e até o momento não obtivemos respostas. Quando forem respondidas, a matéria será atualizada.
1- A Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina permite a presença do Comando da Polícia Militar em reuniões que tratam de campanhas eleitorais no Estado, como foi o caso da presença do Major José Ronaldo Branco, do 15° Batalhão, na última segunda-feira (10) em Caçador (SC), durante reunião que discutia estratégias para a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL)?
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2- No caso específico da reunião supracitada, houve claramente a premeditação de um crime eleitoral, o de coação ao voto de trabalhadores da cidade por parte dos seus patrões, a ser realizado na véspera do pleito. Após a comunicação e discussão dessa estratégia, o policial militar permaneceu em silêncio ou, ao menos, não há registros nos áudios de uma intervenção sua contrária à prática. O Major chegou a fazer uma denúncia sobre o que foi discutido na reunião?
3- Em caso de resposta positiva para a última pergunta, quais procedimentos foram adotados? Já em caso de uma resposta negativa, a Secretaria avalia que tenha havido prevaricação por parte do agente?
4- Qual a posição oficial da Secretaria de Segurança Pública sobre a participação do comandante no evento?
5- No caso do Comandante da Polícia Militar não ter enxergado um planejamento de infração eleitoral, como a SSP/SC irá garantir a segurança das eleições aos cidadãos catarinenses?
Renato Rovai | Revista Fórum
Colaborou Raphael Sanz.
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