Startups querem aproveitar a chegada de novos consumidores no comércio eletrônico para levar até eles a possibilidade de pagar suas compras em parcelas sem precisar de um cartão de crédito.
O modelo, conhecido como “buy now, pay later” (compre agora, pague depois), ou, mais simplesmente, como crediário digital, se beneficia da adoção da inteligência artificial para avaliação do risco de crédito do consumidor, diz Maurício salvador, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) .
Segundo Salvador, a pandemia trouxe 20 milhões de novos consumidores ao comércio eletrônico, grande parte deles sem cartão de crédito ou com pouco limite para compras, podendo se beneficiar de outras formas de empréstimo.
No primeiro semestre de 2021, o comércio online cresceu 31% sobre o mesmo período de 2020. No ano passado, a alta foi ainda mais forte, de 55%, segundo relatório da Ebit | Nielsen.
O avanço desse tipo de pagamento pode resolver um problema frequente das lojas virtuais, o alto volume de compras fechadas que são canceladas porque o consumidor desiste de pagar um boleto à vista, diz Gerson Rolim, consultor do comitê de meios de pagamentos da Camara e.net (Câmara Brasileira da Economia Digital).
A vantagem do Buy Now, Pay Later, segundo Rolim, é que a relação criada entre cliente e startup é de empréstimo. A partir do momento em que a compra é fechada, há um compromisso com o pagamento. Enquanto isso, na transação com o boleto à vista padrão, em que o produto só é enviado após pagamento, estima-se que em cerca de 50% das vendas o consumidor desiste do negócio.
O parcelamento online por boleto ou Pix ainda é pouco adotado no Brasil. Internacionalmente, ganhou holofotes no início de agosto com a compra da fintech australiana Afterpay pela americana Square, de Jack Dorsey, fundador do Twitter, por US$ 29 bilhões.
Segundo os empresários, o desafio do setor é acertar na hora de definir as regras para quem pode ou não ter esse financiamento. Caso a regra seja muito permissiva, depois de alguns anos a startup pode acabar tendo de arcar com uma taxa de inadimplência muito alta.
A VirtusPay, uma das startups do setor, parcela compras feitas em 80 lojas diferentes.
Gustavo Câmara, sócio da startup, explica que o cliente deve enviar para à startup o boleto ou QR code de uma compra que vai fazer. Com ele, a VirtusPay analisa automaticamente a compra e faz uma proposta de parcelamento.
Caso o consumidor aceite, a startup paga a loja e recebe do cliente o pagamento com juros.
Outra opção é o consumidor navegar nas lojas virtuais em que a startup faz parcelamentos a partir do aplicativo da VirtusPay. Na hora do fechamento da compra, o sistema identifica a ação e oferece o parcelamento da startup ao cliente.
Câmara diz que um perfil comum na empresa é o de pessoas que parcelavam compras no crediári de lojas físicas e, na pandemia, tiveram dificuldade de fazer compras.
A companhia, criada em 2018, foi de 16 pessoas no início do ano passado para 116 agora.
Hélio Lemos, sócio da startup Parcelex, diz que o desafio para digitalizar o crediário é permitir que a compra seja rápida e fácil, para que o cliente não desista. AO mesmo tempo, é preciso fazer uma avaliação adequada para acertar na hora de dar crédito para quem não consegue nos bancos.
O empresário diz que, para fazer isso, são analisadas variáveis como comportamento do consumidor no site, informações demográficas e score em birôs de crédito.
Além disso, quando o cliente faz um parcelamento com a empresa, é solicitada uma selfie para verificar sua identidade. A imagem é comparada com as disponíveis em bancos de dados de empresas especializadas ou na base de fotos de carteiras de motoristas.
A Parcelex oferece o parcelamento em cem lojas. Segundo Lemos, a partir do momento que o cliente tem um limite de crédito aprovado com a startup, pode levá-lo para todas as varejistas parceiras. A startup participa do programa de aceleração do Banco BTG neste semestre.
Outra empresa que chegou recentemente ao mercado brasileiro para desenvolver o Buy Now Pay Later é a colombiana Addi. A companhia captou R$ 350 milhões no final de maio, considerando investimento em participação acionária e em financiamento.
Caio Ribeiro, diretor da empresa para o Brasil, diz que, quando o varejista oferece o serviço, transfere para a startup o risco de inadimplência , ao mesmo tempo em que aumenta o volume de vendas dele.
O parcelamento sem cartão online também atraiu a empresa Meu Crediário, que já oferece o financiamento para pequenas lojas físicas do setor de calçados, confecção e óticas. Em 2020, durante o fechamento dos estabelecimentos na pandemia, a startup passou a oferecer seu serviço também pela internet.
Segundo Jeison Schneider, sócio da startup, o serviço está disponível em 850 lojas de 500 cidades. “No online, o lojista perde algo importante, que é o cliente que volta para a loja para pagar, mas ganha novos consumidores que não compravam pela necessidade de ir até a loja.”
Em 2020, a agência online Decolar adquiriu a fintech Koin, outra a ter entre seus serviços o parcelamento sem cartão.
Lucas Gonzalez, diretor de estratégia da fintech, diz que o setor de turismo é adequados para esse meio de pagamento, porque o valor médio das compras é alto em relaçao ao limite disponível nos cartões dos consumidores.