O dia 11 de setembro representa um momento sensível para os norte-americanos, mas o que pouca gente sabe, inclusive por lá mesmo, é que essa data é considerada pelos dados climatológicos o dia de maior atividade de furacões no oceano Atlântico Norte, em especial, na área do golfo do México e adjacências. A variação é mínima, conforme verificamos os dados anuais, oscilando entre nove e 12 de setembro.
O prognóstico para a temporada de 2022, lançado em 7 de abril, indicava um ano mais ativo em relação à nova normal climatológica estabelecida pelos dados entre 1991 a 2020. Para os sistemas conhecidos por “nomeados”, ou seja, aqueles que recebem nomes, começando pela primeira letra do alfabeto e seguindo até o fim, esperavam-se 19 ciclones tropicais. Como a nova média está em 14,4 sistemas nomeados, teríamos cinco a mais, já que não existe fração de ciclones. Vale lembrar que recentemente, o Centro Nacional de Furacões nos EUA resolveu nomear não somente os furacões, a classe mais elevada dos ciclones tropicais, mas também as tempestades tropicais, uma classe abaixo dos furacões. Agosto de 2022, mês que já deveria mostrar atividade elevada, não apresentou ciclones tropicais nomeados no Atlântico, assim como em agosto de 1961, 1997 e outros quatro casos desde 1950.
Contudo, para o dia 11 de setembro, auge da temporada de ciclones tropicais no Atlântico Norte, tínhamos apenas cinco sistemas nomeados até aquela data, sendo que um deles, o Danielle, foi o primeiro ciclone tropical que entrou na classe dos furacões neste ano e não ficou lá por muito tempo, pois, no dia 8 de setembro, já havia sido rebaixado pelo Centro Nacional de Furacões. A estranheza para este ano não para por aí. O Danielle, além de tardio, desenvolveu-se em latitudes muito mais ao Norte, saindo da área dos trópicos, mais próxima ao Equador. Acabou mudando as suas características, tornando-se um ciclone híbrido e por fim, quase semelhante a um centro de baixa pressão, típico de sistemas frontais. Esta transformação foi ocorrendo enquanto vagueava em rastro de serpente sobre o Atlântico Norte, em sentido à Europa. Acabou desencadeando chuvas desde a área marítima ao Noroeste da África, passando pela península Ibérica e seguindo até as ilhas britânicas, ajudando a quebrar o ciclo de estiagem que perdurava pelo verão.
Pelo ponto de vista meteorológico, o quadro geral do Atlântico Norte apresentou temperaturas do ar elevadas por um perfil maior da troposfera, a primeira camada da atmosfera de baixo para cima, por quase todo o mês de setembro. Como a diferença entre a temperatura do ar sobre a superfície do oceano e a do perfil não é muito significativa, isto não facilitou a formação de nuvens extremamente volumosas no eixo vertical, como as Cumulonimbus (as nuvens das trovoadas, com relâmpagos e trovões) que estão presentes nos ciclones tropicais. Dessa forma, se não tivemos essa condição importantíssima, começamos a entender uma das causas da baixa atividade destes ciclones. A situação específica apresentada neste quadro de setembro de 2022 é um típico caso de prova empírica natural de como a hipótese do “aquecimento global” está errada também no tocante aos furacões. Para os alarmistas, o maior aquecimento traria um número maior de furacões, ou suas intensidades seriam maiores, ou todo o azar de coisas misturadas. No mundo físico real, não é isto que ocorre e vimos este efeito. Temos que ter uma diferença de temperatura do ar entre a superfície e o perfil da troposfera bem mais alto para que haja um desenvolvimento profundo em nuvens, que não foi o caso deste momento para a temporada.
Esse alarde entre a hipótese do “aquecimento global” e os furacões ficou notório por ser propagado pelo ex-vice-presidente democrata dos EUA Al Gore (aquele que tem uma mansão à beira do mar) que usou o ano de 2005 como exemplo, por ter sido um ano muito ativo no Atlântico. O que não mostraram, propositalmente, foi que, pelos dados climatológicos, esse mesmo ano de 2005 figurou como um dos menores na contagem mundial de ciclones tropicais, ou seja, houve um número maior no Atlântico, mas o oceano Pacífico, o verdadeiro terror em se tratando desses sistemas, apresentou um número menor, interferindo significativamente no cômputo geral.
O atual ano de 2022 apresenta, tanto no Atlântico como no Pacífico, uma calmaria ciclônica bastante pronunciada, o que pode elegê-lo consideravelmente a ser um dos anos com menor número de ocorrências. Esta conclusão ainda está em aberto, mas, até o momento, os dados nos indicam essa possibilidade, pois, dos nove furacões esperados para a temporada após o 11 de setembro, tivemos quatro, até o fechamento deste artigo (média climatológica de 7,2). Desses quatro sistemas, dois se tornaram furacões de alta intensidade (categorias CAT-3, CAT-4 e CAT-5), onde se esperam quatro até o final da temporada (média de 3,2). Fiona alcançou CAT‑4, mas em alto-mar, bem longe da costa, deslocando-se para o Canadá. Ian atingiu Cuba, causando grande destruição como CAT-3 e seguiu para o Norte, alcançando a Flórida em CAT‑4, em 27 de setembro, sendo o primeiro de alta intensidade a chegar ao continente. Em se tratando de ciclones tropicais, basta um.
De certo, para o ano de 2022, o 11 de setembro ciclônico não ocorreu. Como sempre dizemos, a natureza não segue as estatísticas, portanto, aguardemos as novidades para esta temporada que só se encerra em 30 de novembro.
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