De acordo com a professora Kamila Rodrigues, a ideia surgiu após os seus estudantes não se mostrarem dispostos a tomar a 1ª dose da Pfizer
Gabriel de Sousa
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No Centro Educacional 04 de Taguatinga, os adolescentes de 17 anos possuem mais uma atividade para ganhar notas: ir até os postos de saúde da capital para vacinar. Kamila Rodrigues, professora de sociologia do 2° ano do ensino médio da instituição, está distribuindo um ponto na média dos alunos em troca de ver os seus cartões de vacinação carimbados.
Segundo a docente, formada em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília em 2018 e que está no seu primeiro ano como funcionária na escola, a iniciativa surgiu para tentar mobilizar os jovens a ir até os postos de saúde para receber a vacina contra a covid-19. Os adolescentes desta faixa etária podem receber a primeira dose da Pfizer-BioTech desde a semana passada, após a ampliação da campanha pelo Governo do Distrito Federal.
No dia 24 de agosto, dia em que foi iniciada a imunização dos adolescentes de 17 anos no Distrito Federal, a professora viu que a maioria dos seus alunos não estavam entusiasmados com a oportunidade de se vacinar. “Pouquíssimos estavam motivados a ir no primeiro dia. A maioria disse que não ía no primeiro dia, pois iriam pegar muita fila. Alguns disseram que tinham medo de agulha e de ter alguma reação”, afirma Kamila.
Após presenciar a indisposição dos alunos, a docente decidiu oferecer o benefício na nota final da matéria de sociologia. “Então nós combinamos o seguinte: Vocês vão lá hoje tomar a vacina, vão me apresentar o cartão carimbado e iremos fazer uma pesquisa científica sobre a importância da vacina para o controle da pandemia.”
O resultado foi maior do que o esperado. Em apenas 48 horas, todos os seus 18 alunos que estavam na faixa etária se vacinaram para conseguir a pontuação extra. E após publicar o seu relato em seu Twitter pessoal, a professora viralizou em todo o país, alcançando mais de 170 mil curtidas até esta segunda-feira (30). “Gente, é real! Meus alunos não iam vacinar. Falaram que tem medo da reação. Falei de 1 ponto na média e eles estão indo no posto aqui do lado da escola agora vacinar. Incentivem seus alunos a vacinar, por favor! Isso é muito importante, nós professores somos referência.”, disse Kamila, em uma publicação no dia 24 de agosto.
A educadora explica que conteúdos de sociologia podem ser trabalhados a partir do incentivo para a imunização. “ Podemos discutir sobre as “fake news” em relação ao sistema de vacinação e a “cidadania” que pode ser analisada ao se refletir sobre a importância do cidadão comparecer aos postos de saúde em prol da sua sociedade”, afirma.
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A especialista conta que outros fatores podem influenciar na falta de disposição dos adolescentes. “Além das fake news e da parcela da população que se diz antivacina, eu acredito que falta um maior incentivo por parte do governo em comunicar e incentivar as vacinações”, conta.
Kamila afirma que os pais dos estudantes e os educadores devem se unir para apoiar os alunos neste momento tão importante da saúde do Distrito Federal e do país, fazendo com que eles compareçam aos postos de saúde da capital. “Se não há incentivo por parte da família e por parte da escola, não dá para esperar que o adolescente tenha sozinho um senso de responsabilidade e vá se vacinar”, explica.
Sobre a população que ainda não foi receber as dosagens do imunizante, sejam eles adolescentes de 17 anos e adultos que já podem ir aos locais destinados à vacinação, a professora de sociologia deixa um alerta: “Não é só a sua saúde, não é uma questão individual sua, é algo que vai influenciar na vida de todo mundo”.
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