Quando começaram a desenvolver a série Eleita, em 2017, Clarice Falcão e Célio Porto ainda estavam na ressaca do impeachment de Dilma Rousseff. Cinco anos depois, a atração brasileira finalmente chega ao Prime Video para mostrar uma jovem influenciadora que se torna governadora do Rio de Janeiro como uma grande brincadeira. Mas aquela que deveria ser uma ideia surreal acabou atropelada por situações políticas da vida real.
“Nós queríamos fazer uma coisa doida, exagerada, mas [a série] foi ficando cada vez mais realista. Então muitas vezes tínhamos que exagerar ainda mais, porque a realidade começou a nos alcançar”, conta Clarice Falcão à Tangerina. “Nós tínhamos uma ideia absurda, e de repente ela acontecia de verdade e dava uma sensação de ‘Meu Deus, a culpa é nossa!’. Parecia que éramos videntes.”
“Fomos pegando um pouco da realidade e tentando exacerbar para ficar engraçada, mas aos poucos fomos perdendo essa corrida porque as coisas do mundo real começaram a ficar cada vez mais bizarras. No início, falávamos que era uma comédia surreal, porque ela parte de uma ideia surrealista. Mas durante o desenvolvimento, vimos que ela não só era bastante realista como virou quase um documentário”, completa Célio Porto.
Eleita se passa em um futuro apocalíptico (mas não muito distante) em que o Rio de Janeiro está absolutamente quebrado, a ponto de o governo alugar o Palácio Guanabara, sua sede oficial, como um Airbnb. Em meio a uma completa desilusão da população com seus políticos, a influenciadora Fefê (Clarice Falcão) lança sua candidatura a governadora com a proposta de acabar com os vacilões.
Para surpresa de todos, a mocinha desligada acaba eleita. Sem sequer saber quais são as funções de uma governadora, Fefê assume o controle do Estado e provoca o caos nas instituições, em um mundo no qual os memes e as redes sociais são mais importantes do que as leis. “A gente fala que esse futuro apocalíptico é ‘daqui a pouco’, mas o daqui a pouco chegou mais rápido do que a gente achava. A gente já está nesse daqui a pouco”, diz a atriz.
“Só para dar um exemplo, que eu nem sei se podemos revelar, mas nós tivemos um momento em que falamos: ‘Vamos botar o deputado Patati Patatá!’. Um deputado só, mas que eram dois palhaços. E aí depois descobrimos que um produtor, o criador, sei lá, era candidato de verdade. Então tivemos que tirar, mesmo já tendo gravado”, lembra Clarice Falcão, em referência ao empresário Rinaldi Faria, que se filiou ao Podemos em abril.
Parceiro da atriz na criação de Eleita, Célio Porto ressalta que a política brasileira sempre foi uma grande piada. “A gente acha que isso só acontece agora porque tem mais mídia. Mas teve o macaco Tião que foi candidato a prefeito do Rio de Janeiro nos anos 1980, o rinoceronte Cacareco que concorreu a vereador de São Paulo… O circo é muito presente no universo político do Brasil, e do mundo todo também. A gente tem o [Volodymyr] Zelensky na Ucrânia, o que está acontecendo na Islândia, na Finlândia”, lista o roteirista.
Apesar de todas as coincidências com a vida real e de a nossa política estar dando poucos motivos para sorrir, Clarice Falcão espera que o público consiga se divertir com Eleita. “Estamos passando por um momento tão difícil, tão sofrido, né? Esses últimos anos foram tão ruins que eu torço para que a série possa ser uma maneira de expurgar algumas coisas através da comédia, da leveza. Vamos levar tudo tão ao absurdo para que possamos rir um pouco, em vez de chorar como temos feito nos últimos quatro anos.”
A primeira temporada de Eleita será disponibilizada pelo Prime Video nesta sexta-feira (7). Além de Clarice Falcão, a comédia conta com Diogo Vilela, Luciana Paes, Polly Marinho, Rafael Delgado, Bella Camero, Felipe Veloso, Pablo Pêgas e Diogo Defante, além de participações especiais de Ingrid Guimarães, Cristina Pereira, Estevam Nabote e Luis Lobianco.