Imunodeprimidos devem manter cautela na flexibilização – 14/09/2022 – Seminários Folha

Em meio ao relaxamento das medidas de proteção contra o coronavírus, pessoas com sistema imunológico comprometido ainda não devem dispensar cuidados tomados na pandemia, dizem especialistas. Elas formam um grupo mais suscetível às formas mais graves da doença e à chamada Covid longa.

Essas questões foram debatidas no seminário Riscos da Covid em Pacientes Vulneráveis, realizado pela Folha em 30 de agosto. O encontro teve patrocínio da farmacêutica AstraZeneca e mediação de Victoria Damasceno, editora de Equilíbrio do jornal.

Lígia Camera Pierrotti, infectologista do Hospital das Clínicas da USP, afirma que indivíduos com sistema imunológico comprometido precisam ser cautelosos no atual cenário de flexibilização.

“Eles devem ter medidas de proteção individual, principalmente porque, no caso de adoecimento, a gente não tem disponíveis na rede SUS [Sistema Único de Saúde] as terapias antivirais e imunológicas para quem tem uma infecção.”

Terapias antivirais inibem a replicação do vírus causador da Covid, já as imunológicas neutralizam o vírus e previnem a entrada dele na célula.

O grupo de pacientes vulneráveis é formado por pessoas em tratamento quimioterápico, transplantados, com doenças congênitas, em hemodiálise, com leucemia, entre outros. Por causa do tratamento ou da própria doença, essas pessoas ficam com o sistema imunológico comprometido, o que as torna mais vulneráveis a certas patologias.

Pierrotti acrescenta que a proteção que as vacinas conferem a pacientes imunodeprimidos é menor do que a registrada na população em geral.

“Isso não quer dizer que a vacinação não seja boa, mas [a proteção mais baixa] deixa uma mensagem clara de que essa população merece um cuidado adicional”, diz ela. No caso de pessoas em tratamento oncológico, o risco de morte por Covid é seis vezes maior do que a média global, segundo um estudo publicado pelo Journal of Clinical Oncology em 2021.

Diretor do Hospital do Rim da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), José Osmar Medina diz que a taxa de letalidade do coronavírus entre indivíduos transplantados é dez vezes maior do que a da população em geral. “Nos pacientes transplantados, a Covid representou um desastre. A situação que enfrentamos nos hospitais foi dramática.”

Além disso, apenas 15% apresentam resposta imune quando recebem a primeira dose das vacinas, enquanto no resto da população esse índice chega a 90%. Os dados são de uma pesquisa do Hospital do Rim publicada na revista científica Transplantation.

O especialista diz que a resposta aos imunizantes nesse grupo é menor por causa dos medicamentos usados para que o organismo não rejeite o transplante.


Assista ao seminário completo

Além de maior risco de morte pela doença, pacientes vulneráveis estão mais suscetíveis à chamada Covid longa, quadro que ocorre quando a pessoa apresenta problemas persistentes após a infecção inicial.

“São pacientes que passam semanas ou meses com o vírus ativo. Eles precisam de cuidados por muito tempo e continuam transmitindo o vírus também por muito tempo”, diz Nelson Hamerschlak, hematologista do Hospital Albert Einstein.

Ele acrescenta que pacientes em remissão (cuja doença está sob controle) também não podem abrir mão dos cuidados. O especialista diz que, dependendo da doença, a pessoa pode ficar com o sistema imunológico debilitado por longos períodos mesmo após a remissão.

“Um exemplo é o paciente que fez transplante de medula óssea. Ele pode ter recuperado os glóbulos vermelhos, mas pode ficar com a imunidade baixa durante anos”, diz. “Mesmo com a remissão, deve-se manter os cuidados.”

Hamerschlak acrescenta que, no caso de pacientes vulneráveis, a volta à normalidade precisa acontecer de forma individualizada, já que cada pessoa tem um nível de imunodepressão diferente. Há pacientes que, diz ele, respondem melhor às vacinas e aqueles que não fazem tratamentos tão agressivos ao sistema imunológico.

“Cada paciente deveria discutir com seus médicos se deve tomar mais ou menos cuidados. Os vulneráveis devem ter algum tipo de convívio social, mas é preciso bom senso nessas situações”, afirma o médico.

Germaine Tillwitz, 38, trata há cerca de seis anos um câncer de mama metastático. Por isso, ainda precisa redobrar cuidados contra a Covid. A advogada diz ter voltado a frequentar restaurantes, mas escolhe ambientes abertos e sem aglomeração.

Quando faz quimioterapia, prefere sair quando sabe que não está com a imunidade tão baixa. “A pandemia agravou a sensação de solidão. Quando começaram as liberações, o paciente vulnerável continuou em isolamento. Muitos relataram depressão e aumento da ansiedade.”

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