“A nova Constituição é um avanço na linha de reconhecer que todas as pessoas, independentemente de sua origem social e de onde vivem, têm esse direito [à segurança pública]. A falta de equidade territorial na distribuição de recursos também é um dos problemas, e o texto se encarrega de estabelecer uma distribuição equitativa das forças policiais”, destacou.
Por sua vez, os opositores do novo texto consideram que ele “restringe liberdades”, “não tem freios e contrapesos” e faz o “Estado passar por cima” dos cidadãos, conforme explicou Claudio Salinas, ex-militante da ultraconservadora União Democrática Independente (UDI) e um dos porta-vozes da “Casa do Cidadão do Rechaço”, que reúne dezenas de organizações sociais.
Para contrários, cidadãos não foram ouvidos
Salinas considera que a convenção que passou um ano elaborando a nova proposta de Constituição “não deu ouvidos aos cidadãos”.
“Participamos das audiências públicas, nas quais havia um mecanismo bastante aleatório e questionável para definir quais organizações estavam presentes”, disse o advogado, antigo assessor do ex-presidente Sebastián Piñera.
“Nomeamos mais de 50 organizações para fazer parte destas audiências, e apenas duas ou três foram selecionadas”, acrescentou.
Ele alegou que sua corrente promoveu iniciativas sobre questões de segurança, saúde, educação e pensões.
“Lamentavelmente, todas e cada uma foram rejeitadas pela convenção, algumas delas nem chegaram ao plenário”, afirmou.
Restrição de liberdades
De acordo com Salinas, a nova Constituição carece de “contrapesos fundamentais para uma democracia estável”, citando como exemplo a eliminação do Senado: “As instituições que criaram um bom desenvolvimento do país são privadas de destaque”.
“Restringe certas liberdades. Uma Constituição deve dar as linhas gerais sobre as quais vamos continuar trabalhando e garantir que o Estado não vai passar por cima dos cidadãos”, acrescentou.
Para Salinas, a forma de rejeitar e continuar com o processo constituinte, com o qual diz concordar, é “criar o quanto antes um grande acordo político cidadão para gerar essas mudanças que o Chile precisa hoje”.
Embora Karol Cariola acredite que se a proposta for rejeitada haveria um cenário de “total incerteza”, Salinas acredita que o processo constitucional vai continuar e que será preciso “criar um grande acordo político cidadão o mais rápido possível” para gerar as mudanças que o país precisa.
Boric viajar para votar
O presidente chileno, Gabriel Boric, favorável à aprovação da nova Constituição, viajou na sexta-feira para sua cidade natal, Punta Arenas, a mais de 3 mil quilômetros ao sul de Santiago, para poder votar logo no início da manhã de domingo e voltar em seguida ao Palácio La Moneda.
“Que sejam os chilenos e as chilenas que, pela primeira vez, decidam democraticamente sobre o conteúdo e a forma de uma nova Constituição é um fato que sem dúvida, aconteça ou que acontecer no domingo, é algo que transcenderá”, afirmou.
“Confio na sabedoria do povo do Chile”, acrescentou o presidente.
Os centros eleitorais, que receberão segurança de mais de 26 mil militares, funcionarão das 8h (horário de Brasília) às 18h.
“Está tudo em ordem, e as Forças Armadas estão se mobilizando para assumir o controle dos locais de votação nas próximas horas, para que todas e todos tenhamos um bom processo”, garantiu neste sábado a ministra da Defesa, Maya Fernández.
A integrante do governo percorreu, junto com outras autoridades, o Estádio Nacional, em Santiago, um dos maiores centros de votação do país, que poderá receber até 13 mil eleitores.