São-paulino, Tony Ramos encara ‘desafio’ de viver palmeirense em filme

De volta aos cinemas, Tony Ramos é um dos protagonistas de 45 do Segundo Tempo (2022), filme dirigido por Luiz Villaça que estreou na última quinta (20). Notório torcedor do São Paulo fora da ficção, o ator de 73 anos encarou o “desafio” de viver um palmeirense nas telonas.

No longa, Tony interpreta Pedro Baresi, homem solteiro dono de uma cantina italiana no Bixiga, em São Paulo, e torcedor apaixonado pelo Palmeiras. Com problemas financeiros e prestes a perder o restaurante que herdou de seu avô, ele decide que vai tirar a própria vida, mas não antes de realizar seu último sonho: ver o seu time ser campeão novamente.

Com mais de 50 anos de carreira, Tony Ramos já deu vida a vários personagens distintos. De mocinho a vilão psicopata, ou de músico a imigrante italiano, sua jornada artística é marcada pela versatilidade e, claro, um talento ímpar. Com um currículo destes, viver um palmeirense de maneira convincente não seria um grande desafio para o ator.

“Para mim, o que interessa é a boa palavra. Seja em novela, no cinema ou em teatro. Eu posso fazer um psicopata, como fiz em A Regra do Jogo [2015], e no dia seguinte fazer um vilão em novela de época. Honestamente, vilão não é só aquele que diz: ‘Eu vou te matar’. O vilão é aquele que consegue, lá no fundo, fazer coisas horrorosas, e você achava normal ele acabar surpreendido. Vestir a camisa do Palmeiras nunca foi um grande problema, apesar de eu ser um são-paulino. A verdade é que um ator não pode ter este problema”, contou o astro em entrevista exclusiva à Tangerina.

“O ator veste a camisa do personagem, e foi esta camisa que eu vesti. Com todo o respeito e toda a vibração, foi a do Palmeiras. Eu não pensei: ‘Ih, que porcaria’. Eu já fui dizendo para deixar a barriguinha aparecendo porque funciona para o personagem. É assim que eu sou, não tem bode na minha vida para vestir uma camisa que não seja do meu time.”

Uma história atemporal

Apesar do título com referências ao futebol, 45 do Segundo Tempo não é uma produção voltada para os amantes do esporte. A expressão é uma referência ao momento dos protagonistas. O trio de amigos Pedro, Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França) se reencontra após anos e começa a refletir sobre as escolhas da vida e como os três chegaram na situação na qual se encontram no presente.

Embora a trama seja focada na jornada de amigos veteranos, o diretor Luiz Villaça, que coescreveu o longa com inspirações em sua própria vida, enxerga a história de 45 do Segundo Tempo como atemporal. Ou seja, não é necessário ter a faixa etária dos personagens para se conectar com a obra.

“[O filme] Não é contextualizado apenas para os mais velhos. Eu acho que é uma coisa atemporal. Inclusive, a história se passa em São Paulo, mas poderia ser em qualquer outro lugar do planeta, né? Isso é muito importante, não é só para quem é paulistano. O que eu acho importante é que você faz essa idealização de como vai ser sua vida. E aí lá na frente você olha para trás, como nossos personagens, e fala: ‘Opa, não era bem assim’. E eles começam uma tentativa de voltar ao passado. Mas essa volta ao passado só faz eles verem que precisam viver o presente e tocar a vida.”

Tony, Cássio e Ary

Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes e Ary França

Divulgação/Globo Filmes

Tanto o ator quanto o diretor, no entanto, não compartilham do saudosismo que afetou os protagonistas de 45 do Segundo Tempo. À reportagem, a dupla contou ter reflexões diárias sobre a vida, mas que estão satisfeitos com suas jornadas até aqui.

“Eu reflito sobre a minha jornada a cada 24 horas. Acredite você ou não, eu reflito porque sou um homem com consciência disso. Eu sou alguém de muito bom humor, mas sou muito discreto com minha vida pessoal. Não sou discreto com amigos com os quais quero estar sempre perto: ‘Vamos jantar hoje? Vamos bater um papo?’. A reflexão sobre a vida, sobre a finitude, filhos, filhas, netos, minha mãe, que felizmente ainda está viva, é feita 24 horas por dia”, explicou Tony Ramos.

“Assim como Tony, eu fico o tempo inteiro refletindo sobre a minha vida. Eu tenho amigos de infância e amigos que fui fazendo a vida toda. Eu não tenho esse saudosismo, eu tento só olhar e entender o caminho que eu trilhei. Outro dia, um amigo me perguntou: ‘O Luizinho estaria feliz com o Luiz de agora?’. E eu diria que sim porque eu sou um cara que respeito meu ofício, criei amigos, família. Sou honesto e democrata. Estou feliz, então não fico revisitando [o passado], não”, acrescentou Villaça.

Entrelaçando ficção e realidade

Além de Pedro (Tony Ramos), seus dois grandes amigos de infância também enfrentam questões em suas vidas pessoas e profissionais. Ivan, um advogado que se especializou em defender clientes de moral duvidosa, está com seu casamento em crise e luta para aceitar a homossexualidade do filho. Já Mariano decidiu se tornar padre, mas passou a questionar a própria crença após algum tempo.

Tal como seus personagens, Ary França e Cássio Gabus Mendes já se encontraram em encruzilhadas em suas vidas pessoais. Isto criou bagagem não apenas fora da ficção, como também serviu de experiência para acrescentar características em Mariano e Ivan.

“Eu sempre tive empasses religiosos. Já fui testemunha de Jeová, já fui católico, e coincidentemente tenho vivido um monte de personagens religiosos nos últimos tempos. Nós conversamos tanto, nos familiarizamos tanto um com o outro, que criamos uma aproximação muito orgânica com os personagens. Estávamos à vontade. O Luiz [Villaça] propôs uma coisa muito caseira, no bom sentido. Então, nós temos uma relação profissional e afetuosa”, contou França.

“A gente sempre traz um pouco de alguma coisa nossa, né? Nossas experiências, que vocês [público] não veem, mas a gente traz. Nossa preparação foi muito bem armada pelo Villaça. Virou uma troca de informações entre nós quatro porque nós nos abrimos, falamos da vida de cada um. Por mais que nós já nos conhecêssemos, trocamos muito mais, nos abrimos e comentamos sobre o outro. Isso foi muito importante para a nossa preparação”, finalizou Cássio.

45 do Segundo Tempo já está em cartaz nos cinemas. O filme ainda conta com Denise Fraga, Filipe Bragança e Louise Cardoso.

Tony Ramos

45 do Segundo Tempo

Trailer oficial

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