A ideia é a mesma de sempre, economizar, mas o conceito de xepa se modernizou: agora, para comprar produtos mais baratos por causa de algum defeito ou de uma pequena deformação, existem mais alternativas além da pechincha no fim da feira livre. Várias novas empresas, a maioria de e-commerce (comércio digital), chegaram ao mercado para combater o desperdício, dar uma segunda chance a alimentos e outros itens rejeitados pelo comércio tradicional, e ajudar os consumidores a gastar menos nas compras.
Quanto ao desperdício, esses empresários dizem que é inaceitável não fazer nada ao saber que 30% de todo o alimento produzido no mundo é descartado. No caso dos legumes, verduras e frutas, por exemplo, isso acontece com os itens considerados fora do padrão desejado para a venda, que nem chegam às bancas das feiras ou prateleiras dos sacolões e supermercados.
Esse padrão está relacionado com a aparência do produto, inclui tamanho, cor e formato. Também são deixados de lado aqueles que amassaram, ficaram com algum defeito ou perderam parte da casca durante o transporte.
Assim, o que motiva o descarte não é o sabor, a qualidade nutricional ou a adequação ao consumo. Apesar de serem esteticamente diferentes, essas mercadorias, que teriam como destino o lixo, podem e devem ser consumidas.
Algo parecido acontece com outras duas categorias de produtos: itens industrializados com a data de validade próxima do vencimento, e alimentos preparados por restaurantes, bares e padarias e não vendidos até o final do dia. Nos dois casos, os artigos estão apropriados para o consumo, mas como não podem ser vendidos pelos estabelecimentos de origem, acabam sendo desprezados.
São esses produtos que a xepa virtual recupera. Funciona mais ou menos assim: as empresas negociam diretamente com o produtor, fábrica ou estabelecimento a compra dos itens desprezados por um preço bem mais baixo que o habitual, que pode ser até 70% menor que o valor comercial habitual. Depois, são organizados kits com os itens disponíveis, vendidos em plataformas digitais, por meio de assinaturas ou aplicativos em dispositivos móveis.
Diferentes xepas
Mesmo não sendo restrita aos vegetais, a xepa moderna conta com companhias que se dedicam a comercializar frutas e legumes. Uma delas é a startup Fruta imperfeita, definida como “um delivery de cestas de frutas e legumes com formatos estranhos, mas deliciosas e nutritivas”.
Tudo o que é vendido vem de sítios de pequenos produtores. No site da Fruta Imperfeita, o cliente escolhe a frequência de recebimento, se quer comprar uma cesta avulsa ou fazer uma assinatura semanal ou quinzenal. Também pode selecionar o tipo de cesta, se apenas com frutas, só com legumes ou mista, e decidir qual é o melhor tamanho para sua família: PP (de 3 kg), P (5 kg), M (7 kg) ou G (10 kg). Ainda é possível informar os itens que ele não deseja que sejam incluídos, e há as opções de receber em casa, se o endereço estiver dentro da área atendida, ou retirar os produtos em uma loja.
Uma cesta PP mista avulsa, por exemplo, custa R$ 33, segundo cotação feita na página da Fruta imperfeita na internet, para entrega em um endereço na região central de São Paulo. Se a opção for por uma cesta apenas com frutas, o preço de uma no tamanho P, com 4 kg e frequência quinzenal, é R$ 84, valor que deve ser pago a cada 28 dias.
Outra foodtech (empresa de tecnologia voltada ao setor de alimentação) que vende assinaturas de cestas com produtos de hortifruti é o mercado Diferente, que faz entregas na maior parte da cidade de São Paulo. Graças a parcerias com produtores de orgânicos certificados, a companhia resgata alimentos fora do padrão, que seriam jogados fora, e oferece ao consumidor até 40% de desconto em relação ao preço dos mercados tradicionais.
O processo para fazer a assinatura é bem parecido com o que já foi descrito: no site da empresa, o cliente seleciona o tamanho de cesta (pequena, média ou grande), a frequência que quer receber em casa (semanal ou quinzenal), e indica qualquer restrição alimentar que tenha. Os produtos oferecidos dependem da sazonalidade e da colheita da semana, por isso a seleção do que vai na cesta é surpresa.
O mercado Diferente foi fundado em janeiro por quatro sócios, todos empresários experientes em startups: Eduardo Petrelli (ex-James Delivery), Saulo Marti (ex-Olist), Paulo Monçores (ex-VTex) e Walter Rodrigues (ex-Rappi). A motivação deles, além de combater o desperdício, é contribuir para proporcionar uma alimentação saudável a todos.
“Durante a introdução alimentar da minha filha, comecei a pensar mais sobre a importância dos orgânicos”, conta Saulo Marti, diretor de marketing da empresa. “Estamos nos juntando a parceiros de peso para revolucionar esse mercado e a alimentação saudável na América Latina, fazer com que esse tipo de alimento possa chegar à mesa de muito mais gente, impactando a vida e a saúde dessas pessoas”, completa.
O Diferente já tem 50 funcionários nas áreas administrativa e operacional, diz Eduardo Petrelli, um CD (centro de distribuição), com duas câmaras frias, ao lado da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo). Lá é feita a montagem das cestas que, depois, são enviadas para os assinantes. As entregas, realizadas por empresas terceirizadas, ocorrem às terças, quintas e sábados.
“A cesta mais pedida é a M, é a que as pessoas costumam pedir no começo da assinatura, e depois mudam para a de tamanho G”, conta o empresário. Uma curiosidades sobre o negócio, segundo Petrelli, é que o jiló é o legume menos popular, o mais citado nas listas de restrições. “O inhame também causou estranhamento no início, muita gente não sabia o que era. Por outro lado, os campeões de elogios são o maracujá, a mexerica e o abacaxi”, revela.
Sobre os clientes, os sócios dizem que as pessoas que aderiram ao serviço logo no começo tinham o perfil de consumidor consciente, preocupado com o meio ambiente, vegano, vegetariano, e aqueles que gostam de cozinhar. Hoje, a maioria é de mulheres acima de 35 anos. “Nosso foco é na experiência do consumidor. Temos um chef de cozinha no time, e parcerias com nutricionistas e chefs para a criação de receitas para colocarmos nas redes sociais. Também temos quatro influenciadores que produzem conteúdo para nosso público. Queremos dar ideias do que fazer com o que vem na cesta”, fala Marti.
Produção excedente
Quem nunca se perguntou qual seria, no final do dia, o destino dos pães e doces não vendidos pelas padarias? Os excedentes da produção diária de restaurantes, bares, pastelarias, cafés, lanchonetes, hamburguerias e padarias, entre outros estabelecimentos, podem ter fins diferentes, mas boa parte deles, ainda com qualidade para consumo, acaba indo para o lixo.
Pensando em diminuir esse desperdício, Caio Ribeiro, Carlos Keiichi e Felipe Barros lançaram há dez meses o Cheap Food, um aplicativo que conecta estabelecimentos interessados em vender a produção excedente ou itens com data de validade próxima ao vencimento a consumidores que querem comprá-los. Os descontos chegam a até 70%.
No app, o consumidor escolhe uma sacola surpresa, que pode ter alimentos doces, salgados ou ser mista (com doces e salgados), e há três opções de preço, de acordo com o tamanho e a quantidade de itens: R$ 10,90, R$ 14,90 e R$ 29,90. A empresa já fechou parcerias com mais de 150 estabelecimentos, e tem mais de 10 mil clientes, 60% na Baixada Santista e 40% na cidade de São Paulo, principalmente na zona sul.
“Nosso time ainda é bem enxuto e, por enquanto, nosso foco são os pequenos e médios comerciantes, que fabricam seus produtos e têm excedentes diários ou próximos do vencimento, como confeitarias, padarias e pizzarias. Mas a ideia é expandir para mercados e até para produtos pet”, diz Caio Ribeiro, que é formado em engenharia de petróleo, assim como o sócio Carlos, que foi seu colega na faculdade. Felipe é o responsável pelo aplicativo e toda a área de tecnologia da companhia.
Ribeiro conta que, apesar da área de formação, sempre trabalhou com gastronomia. “O Carlos teve um restaurante, eu morei nos Estados Unidos, trabalhei com comida grega. Em uma viagem pela Europa, conhecemos a startup Too Good To Go, que foi a inspiração para o nosso negócio. Queremos fortalecer o conceito de consumo consciente, evitar o descarte indevido de alimentos, a poluição do solo, a produção de gases de efeito estufa e retornar capital para os estabelecimentos. Esse é o impacto que desejamos causar”, resume.
Hoje, o Cheap Food vende, em média, mil Cheap Boxes por mês, mas a meta é chegar às mil sacolas por dia. A maior clientela está em Santos, local onde retirar os produtos é preferência, em relação ao delivery. Segundo Ribeiro, os produtos que têm mais saída, e recebem mais elogios no aplicativo, são os de confeitaria, como bolos, tortas, biscoitos, seguidos por pães e salgados, mas ele afirma que a variedade é grande e, como as boxes são surpresa, não é possível ter certeza.
“O desenvolvimento do aplicativo foi um grande desafio, porque ele tem quatro partes, uma voltada para o cliente, outra para o entregador, um painel para o estabelecimento e o painel de administração geral, que a gente usa para controlar tudo”, diz o empresário.
Além disso, ele cita algumas dificuldades para colocar um negócio em pé. “Foram diversas fases: a primeira foi a construção do conceito e, depois, tirar a ideia da teoria. Daí, teve a questão do dinheiro, das condições societárias. Fomos atrás de investidores, para vender o projeto, que ainda era só um sonho. Conseguimos R$ 100 mil na primeira rodada. Com tudo isso, ainda faltava nosso produto responder. Agora que começou a dar certo, buscamos mais R$ 810 mil de investimentos”, conta.
Outra startup que também “salva” alimentos excedentes de restaurantes, padarias, lanchonetes, e também de hortifrútis, além de produtos com vencimento próximo à data de validade, é a Food To Save, que dá descontos de até 70% para os consumidores.
Pelo site ou aplicativo, o usuário escolhe o estabelecimento, que seleciona os itens excedentes, e monta a Sacola Surpresa, de acordo com a disponibilidade. Ela pode ser doce, salgada ou mista, e os preços são variados, algo em torno de R$ 10,99 e R$ 15,99. Depois, é só informar se deseja receber em casa ou retirar no local.
Já são mais de 400 mil usuários cadastrados e mil parceiros como restaurantes, padarias, cafeterias, confeitarias e hortifrútis. A região atendida inclui São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Valinhos, São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul, Osasco, Mauá, Mogi das Cruzes, Santos, Diadema, Taboão da Serra, Barueri, Cotia e Poá.
O Refood é outra opção para quem quer comer bem gastando pouco e ainda ajudar na luta contra o desperdício alimentar. Por meio do aplicativo, restaurantes, cafés, bares, padarias, mercados e hotéis anunciam sacolas-surpresa com alimentos excedentes do dia, para consumo imediato, por um preço 66% menor, e que podem ser retiradas pelo comprador, a partir do horário informado no app. Para os estabelecimentos, o incremento de margem com a venda pode chegar a até 90%.
A inspiração para criar a empresa também foi a startup internacional Too Good To Go, conta o paulistano Pietro Lancieri, um dos sócios.
Ele se uniu ao espanhol Marcos Nofuentes e aos brasileiros André Paraense e Luciano Touguinha para adaptar a ideia ao mercado nacional e criar a Refood. “A empresa foi fundada em fevereiro de 2021, mas só entramos no mercado há um ano, em agosto. Nossa proposta é conectar estabelecimentos que têm produtos excedentes com pessoas do bairro, que podem se programar para ir retirar sua sacola”, diz Lancieri.
Para ele, a empresa enfrentou dois grandes desafios: “o primeiro foi a ‘evangelização’ do consumidor e dos estabelecimentos, com o objetivo de criar o senso de comunidade. O segundo é a necessidade de estar sempre atento ao que acontece, aos movimentos do mercado. Nossa ideia, desde o início, é ser 100% sustentável, é respeitar o conceito de ESG [sigla em inglês para environmental, social and governance, que se refere a questões ambientais, sociais e de governança corporativa]. Para isso, não fazemos entrega, pensamos que o cliente sair para andar perto de casa, para retirar o pedido, seria mais sustentável. Mas percebemos que há uma parcela dos consumidores que precisam do delivery, e o ‘S’ da sigla é de social, que temos que atender também”, explica, dizendo que esse serviço está em análise.
A maioria dos estabelecimentos cadastrados no Refood fica entre os bairros Pinheiros, Vila Madalena, Jardins, Itaim e Vila Olímpia, em São Paulo. Entre eles, está o badalado restaurante Miró Gastronomia, comandado pelo chef Dalton Rangel.
A foodtech 12+ funciona de maneira muito parecida com as demais: dá um novo destino aos excedentes de comida que não são vendidos durante o dia ou a produtos com “tempo de vida curto”, mas que ainda estão em perfeitas condições para o consumo.
Por meio do aplicativo, restaurantes, padarias, supermercados e outros estabelecimentos parceiros anunciam sua Box do Dia, com descontos de até 60% sobre o preço habitual dos produtos. O usuário, então, faz sua escolha e confirma seu pedido, comprometendo-se a ir ao local na hora marcada para a retirada do kit.
A startup faz a intermediação dos serviços de venda dos produtos através da plataforma 12+ em nome das lojas, e sua intervenção é a de um mero agente de pagamento, que atua em nome dos estabelecimentos. A área de cobertura prioritária da 12+ é a região metropolitana do Rio de Janeiro.
Prazo de validade
Um trabalho de faculdade virou o ganha-pão e motivo de orgulho de Luis Borba, fundador e CEO (diretor executivo) do SuperOpa, aplicativo para compra de mercadorias com desconto. Formado em administração pela FGV (Fundação Getulio Vargas), ele tem como sócio Leandro Zanardi, que foi seu professor e maior incentivador, e hoje é CTO, diretor de tecnologia, da empresa.
O aplicativo existe desde dezembro de 2019 e foi criado com o objetivo de reduzir o desperdício de alimentos. Indústrias e distribuidores que têm produtos com prazo de validade mais curto, ou com algumas imperfeições, mas ainda bons para consumo, são conectados diretamente ao consumidor final, que pode economizar até 70% nas compras de alimentos, bebidas e produtos de higiene e beleza.
“Começamos operando como um marketplace, em 2020, com lojas parceiras, como se fosse um shopping online, em que o usuário localiza as lojas mais próximas de seu endereço, ao informar o CEP. E cada estabelecimento anuncia, no aplicativo, sua gama de produtos, aqueles que estão com alguma avaria na embalagem ou, então, os que estão com a data de validade mais próxima do vencimento”, explica Cristiane Lamanna, diretora de marketing e comunicação.
Ela conta que, desde fevereiro deste ano, além das lojas de parceiros, o app tem também uma loja própria, a Opa Economia, que oferece produtos negociados diretamente com a indústria. “É mais uma opção para o cliente. A gente tem um centro de distribuição aqui em Campinas. Trazemos para cá as mercadorias que compramos, e toda a operação é feita por nós mesmos, da separação à logística e entrega nas mãos do consumidor”, diz Cristiane.
De 2021 para 2022, o SuperOpa cresceu 400% em downloads e faturamento. A empresa já tem mais de 50 mil clientes, e a área coberta abrange mais de 500 cidades do estado de São Paulo, principalmente na região entre São Paulo e Campinas. São 32 funcionários contratados, sem contar a equipe que faz as entregas, que é terceirizada.
“Nosso objetivo é expandir, ter mais centros de distribuição, menores e em outras localidades, e inaugurar pontos de retirada, onde as pessoas possam ir buscar seus pedidos”, fala a diretora da empresa. Em junho, foi criado, como projeto-piloto, o primeiro desses pontos, em parceria com a Fundação Tide Setubal e o Quintessa, organização de apoio a empreendedores.
“Esse primeiro ponto de retirada é um contêiner que a gente colocou dentro da comunidade do Jardim Lapenna, na zona leste de São Paulo. É uma loja específica para o pessoal dessa comunidade, que faz o pedido no aplicativo e retira a compra, com frete grátis, ali no contêiner. Todo dia a gente tem rota de entrega para lá, para levar os pedidos deles. É um projeto que a gente está testando para conseguir levar produtos mais baratos para mais gente”, diz Cristiane.
Ela afirma que algumas pessoas deixam de fazer compras online por conta do frete, e acabam preferindo ir ao mercadinho da esquina, pensando ser mais barato. “Mas, na maioria das vezes, não é. Lá não tem as mesmas oportunidades, porque recebemos produtos com preços imbatíveis, então queremos oferecer isso para a galera que precisa mais, né? Já estamos mapeando outras regiões e comunidades, pensando em outros pontos de retirada.”
No SuperOpa, as mercadorias mais vendidas são carne, cerveja, leite, arroz e óleo, mas as mais pocuradas pelos clientes do aplicativo são as proteínas, “em especial por clientes das classes D e E e, nos últimos meses, aumentaram as vendas para as classes B e C.
Outro marketplace que conecta as pessoas a empresas que têm produtos com data de validade próxima do vencimento é o aplicativo b4waste. Ele tem o objetivo de converter o desperdício de alimentos em oportunidades e beneficiar estabelecimentos e consumidores, gerando valor.
Anunciando suas mercadorias no app, os varejistas encontram um destino para produtos que seriam descartados geram caixa e atraem novos clientes para seus pontos de venda. Com a atitude sustentável, também colabora com a melhoria da saúde do planeta. Para o consumidor, a vantagem está em comprar itens de marcas de prestígio, em perfeito estado, e com descontos de, no mínimo, 50%.
Artigos com prazo de validade curto também são conhecidos como Fifo (do inglês “First in, first out”, que, em português, pode ser traduzido como: “primeiro a entrar, primeiro a sair”), Fefo (“First expire, first out”, primeiro a vencer, primeiro a sair), ou Peps (sigla em português para: primeiro a entrar, primeiro a sair). As abreviações, emprestadas da área de gerenciamento de estoques, fazem referência à ordem de entrada e saída dos produtos dos depósitos e armazéns, para que não percam a validade: a regra é que os que chegaram antes sejam os primeiros a sair.
Ajuda para indústrias, empresas e restaurantes
Incentivar o consumo consciente é o propósito da Gooxxy, uma greentech (empresa de tecnologia voltada à recuperação e conservação ambiental) que “oferece soluções de recolocação de bens de consumo com vencimento aproximado, remanufaturados ou descontinuados, que seriam descartados pela indústria do atacado e do varejo”.
Uma das soluções é a Gofast, a recolocação de produtos, que não deixa que eles vençam nas prateleiras. A mercadoria perto da data de vencimento que ainda está na indústria é remanejada e redistribuída no mercado varejista para consumo. Isso acontece quando a indústria fabrica um produto com determinada expectativa de venda, e ela não acontece.
Golast é a recolocação no varejo de lotes de produtos descontinuados, que tiveram a fabricação suspensa. A mercadoria já produzida não precisa ficar parada no estoque da indústria e pode ir para um mercado que ainda se interessa em comercializá-la. O GoOut é a recolocação no varejo de produtos que ficaram fora do padrão no rigoroso processo de qualidade das indústrias, mas que estão aptos para o consumo. Eles podem ser reembalados e colocados, devidamente identificados, nas prateleiras. Há, ainda, alternativas para fábricas evitarem o desperdício de insumos e de embalagens, apoio para produtores rurais e outros serviços.
A foodtech Restin combate o desperdício de comida conectando os produtos Fifo das indústrias alimentícias com o food service (o setor de serviços de preparo de refeições), que pode usá-los como matéria-prima em sua produção. Tudo é feito online, por meio da plataforma digital, que permite a compra e venda das mercadorias com data de validade próxima do vencimento.
A empresa trabalha com três públicos: indústrias de alimentos, que vendem os produtos, restaurantes comerciais e cozinhas industriais, que compram as mercadorias com desconto. A entrega é feita ponto a ponto, ou seja, é a Restin que controla todo o processo de compra até a entrega dos produtos para o cliente.
Quem também atende restaurantes é a Food Finder, que consegue descontos entre 30% e 80% na comercialização de produtos fora do padrão comercial ou próximos ao vencimento. No mercado desde fevereiro de 2017, ela é direcionada exclusivamente a pessoas jurídicas: fornecedores de alimentos e empresas do setor de varejo e food service, como restaurantes cozinhas industriais, bares, lanchonetes, hotéis e similares.
Sem desperdício e fazendo o bem
Entre tantas iniciativas que visam o combate ao desperdício de alimentos, a Comida Invisível também vai atrás de produtos que seriam desprezados mas, ao contrário das demais, o destino é a doação. A startup social conecta quem tem alimentos para doar com quem precisa deles. “Fazemos o encaminhamento correto de alimentos que seriam descartados, mas estão próprios para consumo”, diz a empresária Daniela Leite, que fundou a empresa em 2017, depois de uma visita à Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).
“Comida Invisível nasceu de uma indignação minha, quando vi pilhas e pilhas de alimentos bons para consumo sendo descartados”, conta. Daniela explica que também atua na conscientização das empresas que têm alimentos próprios para consumo, mas que perderam o valor comercial. Podem ser alimentos in natura, ultraprocessados próximos da validade, sobras de bufês.
“Na plataforma temos restaurantes, hotéis, empresas de eventos, indústrias alimentícias, centros de distribuição. Conectamos por geolocalização essas empresas com ONGs que atuam no atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Garantimos a segurança jurídico-sanitária na plataforma, orientando e certificando as ONGs”, diz a empresária.
A plataforma, apta a atender o Brasil inteiro, é gratuita para ONGs e entidades que precisam de doações, e as empresas que precisam dar destinação a seus produtos pagam uma mensalidade para usá-la. “Também temos cotas de patrocínio e realizamos projetos especiais com empresas, na área de destino correto dos alimentos e de educação”, fala Daniela.
A Connecting Food é mais uma foodtech que tem as doações de alimentos como foco. “Apesar de não gerarem uma receita direta para as empresas, elas contribuem para a redução dos custos com o descarte de resíduos, são passíveis de captura de incentivos fiscais, além, claro, de trazer grandes resultados de impacto social e ambiental”, diz Alcione Pereira, CEO da empresa.
A Connecting Food faz a gestão inteligente da redistribuição de alimentos excedentes da cadeia de alimentos; eles são conectados às populações em situação de vulnerabilidade social. “Os alimentos são dos nossos clientes, grandes redes de varejo e indústrias. Atuamos nos processos das empresas para identificar esse potencial desperdício e dar a melhor destinação a esses alimentos”, explica Alcione.
Ela conta que, nas redes de varejo, os alimentos mais doados são frutas, legumes e verduras e, nas indústrias, a variedade de alimentos está relacionada a cada segmento de atuação. A empresa atende 112 cidades em 12 estados brasileiros, e a projeção é terminar 2022 em mais de 20 estados.