Morreu neste sábado (13) no Rio de Janeiro o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, aos 68 anos.
A informação foi confirmada à reportagem pela família, que afirmou que ele sofria de câncer.
Costa foi o primeiro delator da Operação Lava Jato, deflagrada em 2014, e se tornou pivô do escândalo da Petrobras em seu primeiro ano. Foi condenado a mais de 70 anos de prisão em processos do caso no Paraná, mas deixou a cadeia devido a seu acordo de colaboração.
O ex-diretor foi preso em março de 2014, quando a investigação chegou a ele após apuração que inicialmente mirava o doleiro Alberto Youssef. A Polícia Federal descobriu à época que o doleiro havia comprado um automóvel Land Rover para o executivo da estatal. A revelação levou a Petrobras para o centro das investigações.
Costa dirigiu a área de Abastecimento da empresa de 2004 a 2012, durante os governos Lula e Dilma Rousseff. Sua escolha para o cargo foi cercada de controvérsia, já que partiu de indicação do PP —os relatos eram de que líderes do partido, como o então deputado José Janene, exigiram o posto já tendo em vista o potencial de arrecadação nos contratos dessa área.
Mais tarde, contou com apoio também do PMDB para ficar no cargo. Engenheiro mecânico formado na Universidade Federal do Paraná, ele havia ingressado na Petrobras em 1977 por meio de concurso.
Em plena reta final da campanha presidencial de 2014, seus depoimentos com relatos de desvios na petrolífera começaram a ser divulgados, virando munição contra a candidatura de Dilma.
Ele dizia que um cartel de empreiteiras foi formado nos negócios da Petrobras e que havia pagamento de propina, sendo parte destinada aos executivos da estatal e parte aos partidos políticos, incluindo PT, PMDB e PP.
Costa inicialmente foi detido porque as autoridades da operação entenderam que ele e a família tentaram destruir provas ao serem alvos de um mandado de busca. O episódio foi retratado em produções como a série de TV “O Mecanismo”, de 2018, e o filme “Polícia Federal: A Lei é para Todos”, de 2017.
O ex-diretor foi solto em maio de 2014, mas voltou a ser detido devido a informações enviadas da Suíça sobre contas usadas para receber propina.
Em agosto daquele ano, acabou aceitando colaborar com as autoridades, sob o compromisso de devolver dinheiro que estava no exterior.
Seu acordo previa que ele iria abrir mão de US$ 2,8 milhões em nome de familiares em um banco em Cayman e de outros US$ 23 milhões mantidos na Suíça, os quais reconheceu “serem todos, integralmente, produto de atividade criminosa”.
Também afirmava que ele iria pagar outros R$ 5 milhões de indenização cível e estabelecia a perda de bens, como lancha e terreno.
Na mesma época, Alberto Youssef também firmou um novo compromisso de colaboração, o que catapultou as revelações sobre irregularidades em contratos da Petrobras.
Ficou mais de cinco meses detido no Paraná, período que chamou de “inferno”, e mais outro ano em prisão domiciliar no Rio. Em 2015, foi para o regime semiaberto, morando em Itaipava, distrito de Petrópolis (RJ).
Em entrevista à Folha naquele ano, afirmou: “Virei um leproso. Esse ano de prisão foi um ano de lepra. As pessoas fugiam de mim e continuam fugindo”.
Na mesma ocasião, afirmou que, sem a sua delação, “a Lava Jato não teria existido” e contou que optou pelo acordo por orientação da família. Uma filha e um genro chegaram a ser processados na Lava Jato por causa de acusações de destruição de provas.
O Ministério Público chegou a questionar os depoimentos dele e de parentes nesse caso especificamente e chegou a pedir uma revisão dos benefícios por descumprimento do acordo.
Ao longo da Lava Jato, foram incontáveis depoimentos prestados por ele em processos e investigações. Só a leva tornada pública em março de 2015 contava com 80 capítulos.
Com base neles e nos relatos de Youssef, a Procuradoria-Geral da República pediu naquele mês ao Supremo Tribunal Federal investigações de dezenas de congressistas, movimento que deixou o meio político em forte agitação à época.
As acusações da dupla e as descobertas dos investigadores motivaram outros alvos da operação a também optar pela colaboração premiada. A sequência de delações fez com que Polícia Federal e Ministério Público avançassem sobre indícios de irregularidades que abrangiam empresas das mais diferentes áreas e políticos de diversos espectros, além de tentáculos em outros órgãos, como Caixa Econômica e a usina nuclear de Angra.
Costa dizia, sobre sua atuação na Petrobras, que as obras feitas pela estatal não eram desnecessárias e que os preços não eram superfaturadas. Também afirmava que a gestão na diretoria não foi só “bandidagem” e que houve conquistas.