As escadarias de São Paulo – 22/07/2022 – É Logo Ali

Em uma cidade de 1.521 quilômetros quadrados como São Paulo, com altitude média de 760 metros acima do mar, mas com bairros como Perdizes, que chega a 832 metros, e o chamado Espigão da avenida Paulista, com 830, não é de estranhar que a cidade tenha escadarias espalhadas por todo canto.

Uma das mais conhecidas é a do Sumaré, na praça Irmaos Karmann, (zona oeste da cidade) com seus 153 degraus, que já fez jus ao título informal de melhor escadaria fit do Brasil, e recebe atletas de toda a cidade para treinos turbinados com os grafites de suas laterais. Segundo Renata Castro, especialista em Medicina Esportiva, a média de gasto calórico de cada degrau subido é de 0,15 caloria. Para descer, conta-se 0,05 caloria. “Parece pouco, mas somando vai dar um bom total”, explica, ressalvando que isso ainda vai depender da altura do degrau, da velocidade do exercício e do peso da pessoa, entre outros fatores.

Mas o fato é que, mesmo que a conta varie de pessoa para pessoa, podem ter certeza de que a vista, no mínimo, vai ser bem mais atraente que aquela do seu aparelho fechado na academia (OK, não vale citar aqueles seres de corpos absurdamente belos que enfeitam o ambiente e humilham a nós, pobres mortais. Falamos aqui de paisagem, combinados?). “E é uma opção de exercício que está disponível em muitos lugares, é uma prática inclusiva e, em geral, de baixo impacto, porque não se costuma subir em muita velocidade”, acrescenta a especialista.

Além disso, subir e descer as muitas escadas de São Paulo pode ser também um excelente treino para percorrer trilhas no mato. Como se sabe, além de turbinar a capacidade aeróbica, não faltarão nem os buracos que, se na natureza são de se esperar, pelas calçadas urbanas são uma verdadeira lástima. Enfim, voltemos ao que nos interessa.

De alguns anos para cá, a cidade viu boa parte de suas escadarias mais centrais ser enfeitada de grafites diversos, que constituem uma atração à parte para um simples passeio de turismo ou para colorir os treinos. Neste domingo (21), por exemplo, será realizado o “Tour das Escadarias e Confeitarias de Pinheiros”, organizado por Olavo Medeiros, criador do projeto “O Melhor de Sampa”, que idealizou o passeio em plena pandemia como sugestão a quem quisesse fugir do isolamento doméstico e dar uma volta por lugares interessantes.

No tour estão incluídas as escadas da Virgílio, na rua Virgílio Carvalho Pinto, que além dos grafites tem um cantinho de leitura; a Escadaria Mirtes Bernardes, na rua Joaquim Antunes, que homenageia a criadora do padrão das calçadas paulistanas; o Escadão Marielle Franco, homenagem à vereadora assassinada no Rio de Janeiro, e que já foi alvo diversas vezes de vandalismo; e, finalmente, a Escada das Bailarinas, decorada com grafites de Kobra.

Sobre esta última, um alerta: se ainda não conheceu, corra para conferir. Depois que o terreno vizinho foi vendido a uma construtora, metade dos desenhos já foram derrubados, inclusive a reprodução da bailarina de Degas que ilustrava o lado direito. E o outro mural só sobrevive porque uma das moradoras resiste a sair de sua casinha, permitindo (ainda) a apreciação das reproduções das bailarinas de Paraisópolis retratadas pelo artista mundialmente famoso.

O circuito percorrido para essa visita de cerca de 4 horas é de aproximadamente 1 quilômetro, explica Medeiros —e as energias podem ser rapidamente recuperadas nas muitas confeitarias que são visitadas na volta e que tendem a se multiplicar exponencialmente a cada edição do passeio pelo bairro da zona oeste. Para quem se preocupar com o preparo físico, vale contar que não é obrigatório subir e descer os muitos degraus (em média 40, segundo ele) de cada uma. Mas que dão belas fotos para as redes sociais, ah, dão. Quem quiser conferir pode acessar o Instagram do projeto aqui e se inscrever.

Se as escadas de Pinheiros são badaladas, vale conferir também algumas mais esquecidas —inclusive, e principalmente, pelos administradores da cidade. A escadaria do Bixiga, na rua Treze de Maio em frente à praça Dom Orione (onde também há aos domingos uma deliciosa feirinha de antiguidades, velharias e brechós variados e mensalmente, shows de jazz em sua base), na região central, é uma bela obra de arquitetura com seus 80 degraus divididos em três lances. Mas, na manhã em que o blog foi lá conferir (e contar os degraus, que não constam de nenhuma citação oficial), o lixo se acumulava em cada patamar.

Outra bela escada que vale o exercício por seus 120 degraus é a do Belvedere Avanhandava, que liga as ruas Frei Caneca e Avanhandava. Como a do Bixiga, demanda mais limpeza das autoridades e cuidado do usuário com a segurança, pois em horários mais desertos os assaltos são frequentes, dizem os comerciantes da vizinhança, que preferem não se identificar por medo de represálias.

E se vamos falar de escadas, não dá para esquecer aquela do ponto mais alto da capital paulista, a que chega ao pé das antenas localizadas no Pico do Jaraguá, na zona norte da cidade. Se a do Sumaré é a versão mais, digamos, gourmet, pode-se dizer que a do Jaraguá é a mãe-raiz de todas as escadarias da cidade, com nada menos que 300 degraus e uma vista de tirar o pouco fôlego que restar a quem chegar lá.

E aí, já escolheu seu passeio para este fim de semana?


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Deixe um comentário