Integrantes da campanha de Jair Bolsonaro (PL) dizem que o encontro do presidente com embaixadores, em que ele desacreditou o sistema eleitoral e atacou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), só serviu para interromper uma onda de agenda positiva com a qual esperavam lucrar nesta semana.
Como a Folha mostrou, a campanha buscou se distanciar, ao alegar que nada sabia do encontro e que nem participou da organização dele. A avaliação, que já vem de meses e é respaldada por levantamentos encomendados pelo partido, é a de que não apenas ele não ganha votos, como perde, com esse tipo de discurso.
Levantamentos nas redes sociais feitas pelos assessores do presidente mostram que a maioria do eleitorado rechaçou o tom da reunião com os embaixadores.
Além disso, segundo análise de integrantes da campanha, se queixar de fraude nas urnas passa a sensação ao eleitor de que a disputa já está perdida —o que levaria parcela do eleitorado a desistir de votar nele. Pesquisa Datafolha mostra o chefe do Executivo 19 pontos atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Estavam presentes na apresentação de Bolsonaro a embaixadores dois nomes da campanha: o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o ex-ministro da Defesa Braga Netto, que deve ser vice na chapa do presidente.
Apesar das críticas às declarações do chefe do Executivo, o entorno do presidente admite que esta é uma pauta que ele não abandonará, mesmo diante dos alertas e até mais, de pedidos para que cessasse o assunto.
Há uma expectativa, inclusive, de que Bolsonaro volte a criticar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e as urnas eletrônicas na convenção do PL, marcada para o próximo domingo (24).
A estratégia da campanha é ocupar o máximo possível a agenda dele com o que chamam de pautas positivas. A menos de três meses da eleição, ele deveria estar indo aos postos de gasolina colher os frutos da redução nos preços, não discutir urnas, defendem.
O ideal, na avaliação de integrantes do núcleo duro da campanha, era que Bolsonaro propagasse em seu discurso essas agendas positivas e não as ofuscasse com críticas ao processo eleitoral.
Na semana passada, o Congresso aprovou a proposta que atropela as leis que versam sobre eleições e contas públicas para permitir ao governo turbinar benefícios sociais em meio à corrida pelo Palácio do Planalto.
A PEC (proposta de emenda à Constituição) que dá aval ao pagamento de novos benefícios à população contém sete medidas. Entre elas, ampliação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 até o fim do ano, duplicação do Auxílio Gás para cerca de R$ 120 e a criação de um vale de R$ 1.000 para caminhoneiros.
Além disso, o texto prevê um auxílio para taxistas, repasse de recursos para evitar aumento de preços no transporte público, subsídios para o etanol e reforço de verba no programa de aquisição e doação de alimentos. O custo total é estimado em R$ 41,25 bilhões.
De acordo com um aliado, Bolsonaro planejava inicialmente fazer um discurso mais ameno, sem ataques diretos aos ministros.
Ele teria sido insuflado, contudo, pela notícia da decisão de Alexandre de Moraes, do TSE, de determinar a remoção de notícias falsas de páginas de aliados do presidente, que relacionam a facção criminosa PCC ao PT e ao assassinato de Celso Daniel em 2002, quando ele era prefeito de Santo André (SP).
Esses vídeos foram publicados em canais de apoiadores do presidente e tiveram participação ou foram compartilhados por parlamentares bolsonaristas, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e os deputados Carla Zambelli (PL-SP), Hélio Lopes (PL-RJ) e Otoni de Paula (MDB-RJ).
A decisão saiu horas antes do encontro e irritou o chefe do Executivo, segundo aliados. O PL deve recorrer da decisão, mas só em agosto. Porque se o fizer agora, cairá nas mãos de Moraes, que está no plantão da corte.
Assim, o presidente transformou sua apresentação a dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para repetir teorias da conspiração sobre urnas eletrônicas, desacreditar o sistema eleitoral, promover novas ameaças golpistas e atacar ministros do Supremo.
O chefe do Executivo concentrou suas críticas nos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.
Fachin é o atual presidente do TSE. Barroso presidiu a corte eleitoral, e Moraes deve comandar o tribunal durante as eleições.
O mandatário acusou o grupo de querer trazer instabilidade ao país, por desconsiderar as sugestões das Forças Armadas para modificações no sistema, a menos de três meses da disputa.
“Por que um grupo de três pessoas apenas quer trazer instabilidade para o nosso país, não aceita nada das sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas?”, disse.
Nesta terça (19), os partidos de oposição acionaram o Supremo para que Bolsonaro seja investigado sob suspeita de crime contra as instituições democráticas por apresenta r teorias conspiratórias sobre as urnas no encontro com embaixadores.
O pedido ao STF é assinado por parlamentares de PT, PSOL, PC do B, PDT, Rede, PSB e PV. Eles esperam que a corte autorize abertura de inquérito sobre a conduta do presidente.
Na solicitação, os partidos afirmam que o mandatário não pode “usar do cargo de presidente da República para subverter e atacar a ordem democrática, buscando criar verdadeiro caos no país e desestabilizar as instituições públicas”.
Para aliados, esta é mais uma demonstração do erro que foi a reunião desta terça. Não apenas Bolsonaro não ganhou votos, mas produziu uma pauta negativa no Supremo e deu munição aos seus adversários.