O sucesso de franquias como Crepúsculo e The Vampire Diaries (2009-2017) colocou histórias sobre vampiros de volta aos holofotes de Hollywood. True Blood (2008-2014) e The Originals (2013-2018) também ajudaram a manter a onda em alta entre fãs da cultura pop, mesmo quando a qualidade já não era mais a mesma. Primeira Morte, nova série da Netflix que se aproveita deste “subgênero”, é ruim, mas tem elementos de sobra para se tornar o novo fenômeno entre adolescentes.
Estreante entre seus pares, Primeira Morte não reinventa a roda. Inspirada em um conto da aclamada autora Victoria “V. E.” Schwab, a série resgata a lenda do amor impossível entre dois jovens, eternizada na peça Romeu e Julieta, como pontapé inicial para a sua trama. A principal diferença, no entanto, traz um frescor essencial para este tipo de narrativa: o romance entre duas garotas.
As protagonistas Juliette (Sarah Catherine Hook) e Calliope (Imani Lewis) vêm de duas famílias distintas. A primeira faz parte de uma antiga e importante linhagem de vampiros, enquanto a segunda segue a tradição familiar de ganhar a vida como caçadora de monstros. Se um romance LGBTQIA+ ainda sofre dificuldades para acontecer em 2022, ser de clãs arqui-inimigos torna tudo muito mais difícil.
A história de ambas começa em uma encruzilhada. Margot (Elizabeth Mitchell) e Sebastian (Will Swenson), pais vampiros de Juliette, aguardam ansiosamente pela primeira “alimentação” da filha, que nunca mordeu um humano. Do lado dos caçadores, o casal superprotetor Talia (Aubin Wise) e Jack (Jason Robert Moore) relutam em deixar Calliope matar um monstro pela primeira vez.
As jovens enfrentam dilemas importantes entre seus entes queridos, ao mesmo tempo que sonham em ter uma vida normal como adolescentes. Mesmo vampiros e caçadores desejam um amor para chamar de seu, um amigo para reclamar da vida e ir a festas regadas a bebidas e más decisões.
Calliope e Juliette em clima quente
Divulgação/Netflix
Enquanto história de amor e descobrimento da sexualidade, Primeira Morte funciona muito bem. A tensão sexual entre Juliette e Calliope chega a ser surpreendente, construída de forma que nem séries como Elite, especialista na questão, conseguiram fazer.
Seria uma premissa pronta para muito drama e emoção, mas a má execução de várias outras frentes ao longo dos oito episódios desta primeira temporada torna a experiência de assistir à série mais dolorosa do que prazerosa. A começar, principalmente, pelos elementos fantásticos e que deveriam estar entre as principais qualidades de Primeira Morte.
Efeitos especiais chegam a ser inaceitáveis
Tratando-se de uma série produzida para uma gigante do streaming em 2022, alguns dos efeitos especiais apresentados na primeira leva chegam a ser inaceitáveis. Coreografias de luta pífias e animais criados por tecnologia —que mais parecem saídos de um clipe musical dos anos 2000— enfraquecem qualquer força que a narrativa entre as famílias de Juliette e Calliope poderiam proporcionar. Há sequências de lutas em Primeira Morte que fazem as de Buffy, a Caça-Vampiros (1997-2003) tão boas quanto as de um filme dos Vingadores.
O que salva a nova aposta da Netflix do completo desastre são mesmo seus personagens. Seja na força do romance entre as protagonistas ou no carisma de coadjuvantes como Ben (Jonas Dylan Allen) e Elinor (Gracie Dzienny), Primeira Morte tem o bastante para conquistar o público que, nos anos 2010, suspirava ao ver vampiros brilhando ao botar a cara no Sol.
Como a tolerância para má qualidade entre os assinantes da Netflix parece ser alta já há algum tempo, não seria um absurdo ver Primeira Morte surgir entre as mais vistas da plataforma em suas primeiras semanas. Caso a série seja renovada para uma segunda temporada, a equipe criativa deve se empenhar para tornar a experiência de assisti-la mais agradável.
Primeira Morte – 1ª temporada
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