As rosas são vermelhas. Netuno é azul profundo.
Por que Urano não é também?, os cientistas se indagavam.
É uma pergunta intrigante. Urano e Netuno, os dois planetas mais externos do nosso sistema solar, são gigantes de gelo —mundos frios feitos de gás e gelo, com composições químicas semelhantes.
Eles também não são muito diferentes em massa, sendo a de Urano 15 vezes maior que a da Terra e a de Netuno, 17 vezes. E ambos têm aproximadamente quatro vezes o tamanho da Terra, sendo Urano um pouco maior.
No entanto, os dois mundos parecem decididamente diferentes. Urano, como foi revelado pela primeira vez pela nave espacial Voyager 2 da Nasa em 1986, é uma bolha azul-clara sem características especiais.
Quando a mesma espaçonave encontrou Netuno em 1989, revelou um mundo com os ventos mais poderosos do sistema solar, que rasgam uma atmosfera azul real, com tempestades gigantes e até uma misteriosa mancha escura. Por que a diferença?
Patrick Irwin, físico planetário da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e seus colegas desenvolveram uma resposta. Eles reuniram um conhecimento minucioso da atmosfera de cada mundo usando o telescópio Gemini North no Havaí, o Telescópio Espacial Hubble e outras observações.
Os dois planetas são azuis porque possuem metano em suas atmosferas, gás que absorve a cor vermelha da luz do Sol. Mas uma camada média de névoa de metano em Urano parecia ser duas vezes mais espessa que a camada de Netuno. É a presença dessa névoa adicional que produz as aparências diferentes.
“Essa neblina tem um aspecto meio esbranquiçado”, disse Irwin. “Por isso Urano parece mais pálido que Netuno.”
A pesquisa foi publicada na terça-feira no Journal of Geophysical Research: Planets.
Imke de Pater, cientista planetária na Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), disse que a descoberta faz sentido. “A abundância de metano nos dois planetas é muito semelhante”, disse ela. “Algo tem que explicar a diferença de cores.”
Por que Urano tem uma camada de neblina mais espessa que a de Netuno pode ser resultado de um impacto gigante no início de sua existência que inclinou o planeta, disse Leigh Fletcher, cientista planetário na Universidade de Leicester, no Reino Unido, e coautor do estudo.
“Toda a sua energia e fontes de calor internas podem ter sido liberadas naquela enorme colisão”, disse ele. “Então, o que vemos hoje é um mundo mais estagnado.”
Ambos os mundos perderiam neblina conforme o gelo de metano a puxasse para a atmosfera inferior, caindo como neve de metano. Mas em Netuno, mais ativo, a neve de metano cai com maior frequência, levando a uma camada de neblina mais fina.
Erich Karkoschka, cientista planetário na Universidade do Arizona (EUA), disse que “não faria essa suposição”, que a colisão de Urano com outro objeto explicaria por que ele é menos ativo que Netuno. Ele sugeriu que os planetas podem ser diferentes o suficiente fisicamente para explicar as diferenças em suas atmosferas.
O trabalho também pode explicar a origem das vastas e misteriosas manchas escuras de Netuno, disse Irwin, que parecem ser causadas por um escurecimento das partículas de neblina, possivelmente devido à evaporação do gelo de sulfeto de hidrogênio.
Um futuro orbitador e sonda atmosférica de Urano são uma prioridade da Nasa, a ser lançados na década de 2030. Eles poderiam revelar mais aos cientistas sobre as camadas de neblina, assim como as observações com o Telescópio Espacial James Webb.
“Ainda há muita incerteza”, disse Irwin. “Nós realmente não sabemos de que são feitas as partículas. A única maneira de realmente saber o que está acontecendo é lançar uma sonda nessas atmosferas profundas.”
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves