Estudar em conservatórios tradicionais e renomados internacionalmente é o desejo de todo músico que busca uma formação acadêmica. Frequentar uma universidade de música com essas características e que ainda conte com a chancela da realeza britânica, poderia ser considerado um sonho quase impossível. Para alguns. Para o violonista Bruno Robalo Groke Aloise Moura, de apenas 19 anos, essa é a programação a partir do próximo mês, caso consiga levantar os R$ 21 mil que ainda faltam do custeio total dos seus seis primeiros meses de estudos, que totaliza R$ 196 mil.
Ele é um dos poucos brasileiros a conseguir aprovação para a Royal Northern College of Music, em Manchester, na Inglaterra, considerada uma das melhores do mundo. O feito ainda vem acompanhado de duas bolsas, que vão cobrir mais de 70% dos gastos. E o investimento não será em vão. Fundado no final do século 19 por “Sir” Charles Hallé, o conservatório recebeu o título real das mãos da rainha Vitória. Ele é um dos quatro associados ao Conselho das Escolas Reais de Música da coroa britânica. Por lá passaram nomes consagrados, como a mezzo soprano Christine Rice, o cantor e compositor Howard Jones, e a violinista Sarah Oates.
Realizar a proeza de se mudar para outro país e frequentar uma universidade renomada, porém, não é uma tarefa fácil. Além dos diversos testes e provas a que foi submetido, o trâmite burocrático e os custos de admissão e permanência no país são empecilhos que Bruno agora luta para resolver.
O garoto mora com a avó em um apartamento de dois dormitórios em um prédio de três andares, no bairro da Ponta da Praia, em Santos, no litoral de São Paulo. Apesar de receber o apoio dela e da mãe, que vive com o padrasto de Bruno em outro imóvel na cidade, a família não conseguiria dispor de recursos financeiros para ajudá-lo a custear os estudos, atualmente compostos por uma anuidade de 24 mil libras (R$ 175 mil).
As duas bolsas, porém têm o valor de 19.500 libras (R$ 142 mil) e a família já conseguiu levantar R$ 33 mil em recursos para custear a parte da universidade. Agora, ele busca conseguir o equivalente a 3 mil libras (R$ 21 mil) para custear as passagens e os primeiros meses de residência em Manchester. Para isso, realiza apresentações públicas, dá aulas particulares à distância e até criou uma vaquinha on-line, bem como uma rifa solidária de um jantar árabe – lidando com nota após nota.
Amor quase de berço
Bruno contou ao UOL que o seu amor pela música começou muito cedo, incentivado pela avó materna. “Quando eu era bebê, na hora de dormir, ela colocava Bach para eu ouvir. Acho que meu amor pela música começou aí”.
Enquanto crescia, o sentimento só aumentou. Aos 7 anos, ingressou nas aulas particulares de piano. Aos 9, aprendeu violão popular. Aos 10, teve seu primeiro contato com o violino e, aos 11, já estudava o instrumento com paixão.
“Sempre fui fã de Albert Einstein e, quando eu soube que ele tocava violino, comecei a pesquisar tudo o que podia sobre isso. Mas era um instrumento caro, os cursos eram caros. Até que tive a oportunidade de ingressar no projeto da orquestra do Instituto GPA, uma organização sem fins lucrativos. Lá me tornei spalla (primeiro-violino) e aprendi muito do que sei hoje”.
Apesar da pouca idade, Bruno já participou de diversos festivais nacionais e internacionais. Em 2017 e 2019, venceu o primeiro lugar o concurso de solista do Festival Bravo, em Santos. Este ano, em um concurso realizado pela Cidade de Stresa, na Itália, foi o único brasileiro a estar entre os vencedores.
Bruno, que estuda inglês desde os 14 anos, disse que vem se preparando para ingressar no conservatório real desde julho do ano passado, quando se inscreveu para uma vaga. A partir daí, foram meses de estudo e ensaios, testes de teoria musical on-line, em tempo real, entrevistas e até a gravação de um vídeo com a execução de três peças clássicas para violino, sem interrupções.
A aprovação veio em dezembro e, desde então, o jovem vem buscando, de todas as maneiras, realizar o seu sonho. “Falta muito pouco agora, consegui juntar a maior parte do dinheiro. Preciso embarcar já no início de setembro, pois as aulas começam no dia 20 e eu preciso alugar um quartinho para morar até conseguir trabalho para me sustentar”, faz planos, sem esquecer de quem tem o ajudado até agora. “Um dia vou poder retribuir a todos que têm me apoiado nessa jornada. Quem sabe um dia [eu] consiga abrir um conservatório voltado apenas para jovens carentes?”.