Economias europeias temem colapso com elevação de juros para conter inflação – Notícias


A maior inflação da história para os países que integram a zona do euro intensificou as discussões do BCE (Banco Central Europeu) para a elevação dos juros no bloco, atualmente em patamar negativo. A decisão pela alta, no entanto, esbarra na possibilidade de limitar o crescimento das economias mais frágeis que integram o continente.


Diante do cenário, as expectativas apontam para uma sequência de aumentos dos juros a partir do mês de julho. Na ata da última reunião do BCE, alguns dos membros da diretoria destacaram a necessidade de “agir sem demora excessiva” para segurar a alta de 7,4% dos preços no acumulado dos 12 meses encerrados em abril.


“A elevação dos juros é vista como necessária para evitar que o repique temporário de inflação se consolide e para conter novas altas das expectativas que colocam os índices de preço acima da meta estabelecida pelo BCE”, afirma o documento.


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O debate leva em conta que subir as taxas de juros funciona como um instrumento de política monetária efetivo para reduzir os preços. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas de investimento pelas famílias.


Para a presidente do BCE, Christine Lagarde, a tentativa de conter a inflação recorde na zona do euro resultará, inevitavelmente, na elevação dos juros pela primeira vez em mais de uma década em julho. Segundo ela, a estratégia é uma forma de domar a contaminação do aumento dos preços da energia sobre outros bens.



Há alguns dias, Pablo Hernández de Cos, um dos responsáveis pela política monetária da zona do euro, afirmou que a autoridade monetária deve decidir em sua próxima reunião o fim do seu programa de estímulo em julho e aumentar as taxas de juro “muito em breve”.


Bruna Centeno, economista da Blue3 Investimentos, explica que a elevação dos juros na Europa já está precificada após a decisão do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos optar por uma alta de 0,5 ponto percentual nas suas taxas, a maior variação em 22 anos. “Se os Estados Unidos aumentaram, o mundo inteiro aumenta”, explica ela.


Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, avalia que os movimentos de política monetária representam a retirada dos estímulos que foram feitos nos últimos anos. João Beck, economista e sócio da BRA, por sua vez, cita o conflito entre Rússia e Ucrânia como um desafio adicional para as tomadas de decisão do BCE.


“É esperado vermos uma alta de juros na Europa bem mais cadenciada e gradual. No continente, diferente do que acontece nos EUA, consumo e investimentos estão em níveis menores que antes da pandemia. Parte da estagnação do bloco é por consequência da guerra em que política monetária tem pouca eficiência”, analisa Beck.


Cautela


Mesmo com a necessidade de interromper o avanço da inflação, a decisão pela alta dos juros não é uma unanimidade entre os membros da zona do euro. Fabio Panetta, italiano membro da diretoria do BCE, pede cautela para a necessidade de avaliar o atual desempenho econômico do bloco.


“Seria imprudente agir sem ter visto primeiro os números sobre o PIB do segundo trimestre e discutir outras medidas sem um entendimento completo de como a economia poderia se desenvolver”, disse Panetta em entrevista ao jornal italiano La Stampa.



A posição do italiano também é partilhada pelo presidente do banco central alemão, Joachim Nagel. Ele afirma ser contra qualquer aumento precipitado nas taxas de juros, mas admite a possibilidade de alterar sua posição com o encerramento das compras de títulos no fim de junho.


“Se tanto os dados recebidos quanto nossa nova projeção confirmarem esta visão em junho, defenderei um primeiro passo para a normalização das taxas de juros do BCE em julho”, destaca Nagel.


Bruna Centeno ressalta que o temor pelas taxas mais altas é válido, porque nenhuma economia consegue se sustentar com juros em patamares muito elevados. “A correlação com o PIB é muito inversa. Os juros maiores afetam a capacidade produtiva das empresas e a capacidade instalada por conta da geração de empregos”, diz ela.


De acordo com Jansen Costa, o principal receio global é a estagflação, fenômeno conhecido por um período de inflação, recessão e juros elevados. “O mundo vai gerar nessa dúvida até com que se organizem as cadeias globais para que a gente diminua o preço do frete e, por consequência, derrubar o valor dos produtos”, afirma.


Para Bruna, da Blue3, a situação mais complicada deve ser enfrentada pelos países com mais fragilidades econômicas, como Itália e Espanha. “Esses países que têm problema de mão-de-obra são bastante impactados, porque as empresas começam a pensar se realmente compensa empregar um funcionário no momento atual de crise”, observa.


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