Se você mora na região centro-sul do país e está passando frio nos últimos dias, imagine gravar um filme no meio da neve? Foi esse o desafio de Fê Paes Leme, Maria Flor, Micheli Machado e Priscila Assum quando toparam fazer a comédia “Quatro Amigas Numa Fria”, que chegou ontem aos cinemas.
Gravado em 2018, bem antes do caos que o mundo enfrentou com a pandemia de covid-19, o filme teve a maior parte de suas cenas rodadas em Bariloche, famoso destino de esqui na Argentina. Ainda sem se preocupar com máscaras ou testes diários para detectar o vírus, a equipe enfrentou outros contratempos.
Das quatro protagonistas, Fê Paes Leme confessa que ela é a que menos tem lembranças da viagem que rolou há quatro anos. A atriz foi uma das primeiras famosas a pegar covid, ainda em março de 2020, e relata sofrer até hoje com uma das sequelas mais comuns relatadas por quem pegou o vírus: a falta de memória.
“Depois que peguei covid tive um problema de memória real. Até entrei no nosso grupo de WhatsApp e pedi para as meninas me ajudarem a relembrar as histórias”, conta a atriz a Splash. Durante a entrevista, inclusive, ela foi surpreendida pela colega de elenco Micheli Machado e pelo roteirista Paulo Cursino com a informação de que o pé dela congelou dentro de uma bota.
“A gente estava fazendo uma cena e o seu pé começou a gelar, gelar, gelar… Foi desesperador. Eu olhei para você e seu olhinho estava cheio de lágrima, você falou que não estava mais aguentando. Eu falei: ‘Gente, chega, o pé da Fernanda está congelando’. Peguei na sua mão e saí andando”, relembrou Micheli.
“Colocaram dois secadores no seu pé para ele voltar a mexer”, continuou Micheli, até Fernanda retomar a memória do perrengue.
Mas não foi só Fernanda que sofreu com o frio. Maria Flor teve que gravar algumas cenas em um barco, enfrentando além do frio, o vento congelante. E, depois de sofrer para fazer as cenas, precisou repetir.
“A gente filmou com um drone. Na época era novidade usar drone. Depois de um dia inteiro de filmagens, o drone caiu no fundo do lago e perdemos a diária inteira. Tive que voltar para o barco e filmar tudo de novo.”
Para Priscila Assum, o desafio foi filmar completamente coberta por várias camadas de roupa. A personagem dela é alérgica a neve e mal consegue conversar com as amigas debaixo de tanto tecido. “Por mais que pareça que eu estou engessada, deu para ir muito além com o físico. Não tinha expressão para trabalhar, só o corpo. Aí brinquei com esse humor mais físico e me diverti muito.”
Mesmo assim, ela não escapou de outro perrengue. As diárias no Rio de Janeiro, já que parte das cenas internas em que elas estão em um chalé foram filmadas aqui no Brasil mesmo.
“Não estava aquele calor de matar, a gente até deu sorte, mas estava muito quente e era muita roupa. E na época eu estava com uma rosácea bizarra que eu nunca tinha tido. A gente saiu muito da zona de conforto.”
Despedida de solteira
Escrito no auge do movimento #MeToo, que mexeu com as estruturas do cinema mundialmente, “Quatro Amigas Numa Fria” tinha sido originalmente pensado com protagonistas homens. De olho no movimento, o roteirista Paulo Cursino teve a ideia de fazer a mudança.
“Dei a ideia de trazer as mulheres. Imaginei que ninguém mais quisesse ver quatro homens indo para uma despedida de solteiro. Era a hora de deixar as mulheres à frente”, conta Cursino, que teve a parceria de Taisa Lima no texto.
No filme, Maria Flor é Dani, uma mulher que está prestes a se casar com o namorado com quem está junto há muito tempo e resolve curtir uma última viagem ao lado de suas melhores amigas: Karen (Fe Paes Leme), Lud (Micheli Machado) e Josie (Priscila Assum).
Quatro protagonistas com mais de 30
Cada uma das mulheres está em uma fase diferente da vida, mas com algo em comum: a faixa etária. Fê Paes Leme, que fez muito sucesso na adolescência como a Patty do seriado “Sandy e Junior” (1999) e depois participou de novelas como “Insensato Coração” (2011), comemora o fato de ver mulheres com mais de 30 anos protagonistas.
“Para nós, mulheres, parece que existe uma faixa etária onde você tem mais produtividade como atriz. Vejo muito por mim. Fiz grandes personagens na adolescência e com 20 e poucos anos”, conta a atriz, que filmou com 34 anos e está prestes a completar 39.
“Não surgem grandes oportunidades para contar histórias dessas mulheres. Seja a mulher casada com filhos e sem tempo, seja a que vai casar e não sabe se está entrando numa fria ou não, seja a mimada, ingênua filhinha de papai ou a independente que sabe o que quer, mas também tem vários problemas sentimentais”, completa a atriz.
Micheli Machado concorda com a parceira. “Torço para que venha cada vez mais e tanto os produtores, quanto roteiristas e diretores vejam que é sim muito interessante contar histórias de mulheres com mais de 30 anos, que a gente tem muito a dizer, muito mais do que as jovens.”
Para Maria Flor, a atemporalidade do filme está justamente na identificação com as histórias. Ela, que fez o papel da noiva, e Priscila, de uma virgem em “Quatro Amigas Numa Fria”, hoje exercem o papel de mães em casa. “Eu e a Priscila, por exemplo, estamos com bebês de três meses em casa. E aí revendo o filme a personagem que eu mais me identifiquei foi a Lud.”
O diretor Roberto Santucci aponta que está aí a graça de sua nova comédia, mesmo com a longa espera para chegar aos cinemas. “O filme ainda é atual. Ele fala dessas questões que são muito universais. A gente consegue se identificar com vários elementos e o filme ainda tem muito diálogo com o momento que estamos passando.”