A gigante aeroespacial americana Boeing lançou nesta quinta-feira (19) sua cápsula Starliner rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) em um voo de teste-chave não tripulado, após anos de falhas e falsos começos.
A missão Orbital Test Flight 2 (OFT-2) decolou às 22h54 GMT (19h45 de Brasília) do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, com a nave espacial fixada sobre um foguete Atlas V da United Launch Alliance, segundo a transmissão ao vivo da Nasa.
O sucesso da missão é fundamental para resgatar a reputação da Boeing, após um primeiro fracasso em 2019, quando a tentativa de acoplamento à ISS fracassou devido a erros de software, que implicaram queimar muito combustível para chegar ao destino e a possibilidade de destruição da nave durante a sua reentrada.
“É um grande momento”, disse a vice-administradora da Nasa Pam Melroy pouco antes do lançamento. “Quando construímos a estação espacial, estávamos realmente focados em toda a ciência incrível que poderíamos fazer em inovação. Ter agora outra forma de chegar lá simplesmente nos dá mais resiliência.”
Depois de anos de fracassos e adiamentos, a companhia aeronáutica americana Boeing tentará voltar à concorrência com a SpaceX para servir de “táxi” espacial para a Nasa.
Dia de redenção
Ambas as empresas receberam em 2014 contratos com valores fixos de US$ 4,2 bilhões para a Boeing e US$ 2,6 bilhões para a SpaceX, pouco tempo após o encerramento do programa do ônibus espacial, em uma época na qual os Estados Unidos dependiam dos foguetes russos Soyuz para chegar ao laboratório orbital.
A Boeing, com sua história centenária, foi considerada por muitos uma aposta segura frente à praticamente inexperimentada SpaceX. Mas a empresa de Musk enviou recentemente sua quarta tripulação de rotina para a plataforma de pesquisas, enquanto os atrasos no desenvolvimento da Boeing custaram à empresa centenas de milhões de dólares.
A Starliner deve se acoplar à ISS cerca de 24 horas após o lançamento e entregar mais de 226 kg de carga, incluindo comida e outros suprimentos, como roupas ou sacos de dormir, para a tripulação.
O voo-teste sem tripulação está destinado a determinar se a cápsula será capaz de transportar humanos. Já tinha sido testado, mas sem sucesso, em 2019, quando a nave teve que retornar à Terra antes do tempo, evitando uma catástrofe.
Depois, em agosto de 2021, um novo teste teve que ser cancelado pouco antes do lançamento, devido a um problema de válvulas detectado durante as verificações finais.
Enquanto isso, a SpaceX já realizou com sucesso os seus próprios testes e começou a transportar astronautas da Nasa em missões regulares.
No total, a empresa do bilionário Elon Musk já transportou 18 astronautas com sua própria cápsula, a Dragon, assim como quatro turistas espaciais que pagaram para estar em uma missão.
Contudo, a Nasa quer diversificar suas opções para não voltar a correr o risco de ficar sem meios de transporte americanos, como aconteceu depois do encerramento das missões de transportadores espaciais em 2011. Até o surgimento da SpaceX, a agência espacial americana se viu obrigada a pagar por vagas de tripulantes nos foguetes Soyuz da Rússia.
O lançamento desta quinta-feira é “um passo crucial” para se obter “dois veículos que transportem tripulações de forma regular”, disse na terça-feira Dana Weigel, subdiretora do programa ISS da Nasa, em uma entrevista coletiva. A dirigente destacou que foi assinado um contrato de preço fixo tanto com SpaceX quanto com a Boeing.
Acoplamento delicado
Durante o teste, uma boneca chamada Rosie será colocada no assento do comandante. Ela está equipada com 15 sensores, destinados a recolher informação sobre os movimentos da estrutura.
A aproximação da ISS nesta sexta, por volta das 20h de Brasília, será acompanhada de perto pelos astronautas a bordo da estação. Primeiro, ordenarão que a cápsula se estabilize a cerca de 250 metros de distância, antes de proceder com a delicada manobra de contato e acoplagem. Horas depois, a escotilha da cápsula será aberta.
A Starliner deverá permanecer acoplada à ISS durante cinco dias, antes de retornar à Terra para pousar em pleno deserto do estado do Novo México, no oeste de Estados Unidos, na base de White Sands.
Contratempos em sequência
O desenvolvimento do projeto Starliner acabou se transformando em uma longa epopeia cheia de obstáculos.
Em 2019, a cápsula não pôde entrar na órbita correta devido a um problema com seu relógio e teve que retornar à Terra depois de dois dias. A Boeing depois detectou que outros problemas de software quase provocaram uma anomalia grave de voo.
A Nasa prescreveu uma longa lista de recomendações e modificações para serem realizadas. Depois, em 2021, quando o foguete já estava na plataforma de lançamento para tentar uma nova decolagem, um problema de umidade provocou uma reação química que bloqueou a abertura de certas válvulas na cápsula e o equipamento teve que voltar às oficinas para inspeções durante dez meses.
O problema foi resolvido isolando hermeticamente as novas válvulas, com o objetivo de evitar a entrada de umidade, explicou na terça-feira Mark Nappi, gerente da Boeing. No entanto, para o futuro, outras soluções de prazo mais longo, inclusive uma mudança no projeto, já estão sendo avaliadas pelos especialistas.
Muita coisa está em jogo para a companhia, que espera poder realizar um primeiro voo tripulado no fim do ano. Esta segunda missão de teste será fundamental para obter finalmente a aprovação da Nasa.
Mas o cronograma exato dependerá do desempenho da cápsula nesta semana, que, ao mesmo tempo, pode recuperar um pouco a imagem da Boeing, bastante prejudicada pelos contratempos em sequência.