Quando o primeiro filme de “365 Dias” chegou à Netflix, em 2020, as críticas não foram poupadas. De jornalistas especializados a parte considerável do público e até mesmo artistas, o primeiro longa do que se tornaria uma trilogia virou alvo de críticas por uma abordagem machista e pelas coreografias exageradas para cenas de sexo.
De hit erótico, o filme é encarado praticamente como um “soft porn” com toques de abuso sexual e, para alguns, uma glamourização do trauma.
Ainda assim, a história de Massimo (Michele Morrone) e Laura (Anna-Maria Sieklucka) foi defendida pela plataforma, conquistou fãs a ponto de o filme ficar entre os mais assistidos e render a sequência, “365 Dias: Hoje”, que chegou ao streaming no último da 27 de abril.
No agregador de críticas Rotten Tomatoes, que calcula a média das análises dos filmes feitas pelos principais críticos mundo, “365 Dias” tem 0% de aprovação por parte da imprensa, e 29% na média da audiência. A sequência sequer tem avaliações o suficiente para que uma média seja contabilizada.
E, mesmo com tantos indicativos de que o filme e a história traziam problemas que deveriam ser considerados na hora de autorizar a produção das sequências, elas saíram do papel com facilidade. Os resultados de audiência, a princípio, são positivos.
A continuação, afinal, ficou no top 10 dos títulos mais assistidos na semana de lançamento, e catapultou o primeiro longa de volta para o ranking. Ou seja, os problemas podem até falar alto, mas os números de acesso gritam um pouco mais.
Mesmo assim, há um ponto a se considerar. Enquanto a trilogia polonesa divide opiniões, a Netflix lida com o que parece ser o início de uma crise.
Como assim?
Há cortes de orçamento para grandes produções, cancelamentos de séries cultuadas pela crítica especializada, perda de assinantes como nunca antes visto e uma busca por novos projetos na linha de produções que já foram sucesso em outros canais, como “Jack Ryan”, “New Girl” e “The Voice”.
Tudo isso denuncia que o modelo inicial da Netflix, tão disruptivo e diferente daquilo que já havíamos visto, pode não ser tão vitorioso quanto se pensava inicialmente. A plataforma parece querer se render a fórmulas fáceis e que ela já sabe que funcionam: séries de ação explosivas, comédias lineares e muito sexo.
Então, o que significa o sinal verde para “365 Dias”?
Embora o anúncio do terceiro filme tenha levantado debates e reações negativas nas redes sociais, vale destacar que ele já estava confirmado antes mesmo de a queda de assinantes da Netflix se tornar uma realidade.
Após a recepção do primeiro filme, o streaming autorizou a adaptação do segundo e do terceiro volumes da obra literária. Os filmes foram rodados ao mesmo tempo, entre maio e junho do ano passado.
Na história, Massimo é um mafioso que sequestra Laura e a mantém em sua mansão, mesmo contra a vontade dela. Os dois passam a viver uma relação e ela tem 365 dias para apaixonar-se por ele.
Na sequência, a relação entre eles é complicada pelos laços familiares de Massimo, e por um homem misterioso que entra na vida de Laura para conquistar o coração dela, que está grávida. Aqui, as cenas abusivas parecem ter sido suavizadas, numa tentativa de mostrar que a relação entre os dois está mais igualitária.
Baseada nos livros da escritora Blanka Lipinska, o terceiro volume deverá trazer Massimo enfrentando uma difícil decisão, enquanto Laura luta para sobreviver e ele precisa descobrir qual o destino de sua família. Ainda não há previsão de lançamento.
Com ou sem crise, aliás, parece que a fórmula mágica atual da Netflix é a adaptação de sagas de romance pouco inspiradas, para um nicho específico de mulheres e com forte apelo sexual ou amoroso, considerando os sucessos de “365 Dias” e “Bridgerton”.
Resta saber até quando isso vai durar.