Caminhada Noturna: conheça o centro de São Paulo à noite – 13/05/2022 – É Logo Ali

Para muita gente, paulistanos incluídos (ou talvez principalmente esses), sugerir uma caminhada pelo centro da cidade de São Paulo pode parecer uma aventura. Se a caminhada for à noite, então, seria coisa para aventureiros radicais ou malucos ocasionais. Mas não é nisso que acredita Carlos Beutel. O dono do restaurante vegetariano Apfel, localizado desde 1984 na rua Dom José de Barros, desde 2005 leva — sem cobrar um tostão — grupos de pessoas que se reúnem todas as quintas-feiras para justamente percorrer pontos marcantes dessa região tão maltratada pela gestão pública.

A Caminhada Noturna organizada por Beutel é temática e leva os grupos a pontos históricos e emblemáticos da capital paulista. Conta sempre com o apoio de especialistas e personalidades de segmentos como arquitetura, artes plásticas, urbanismo e história, que ajudam a ilustrar o passeio de, em média, 3 a 5 quilômetros.

Até agora, em cerca de 900 edições, Beutel estima que tenha acompanhado de 45 mil a 50 mil pessoas por lugares que contam muito da história perdida da cidade. Um de seus passeios mais famosos, o “Caça aos Fantasmas do Centro de São Paulo”, que incluía imóveis com fama de mal-assombrados da cidade, chegava a reunir tanta gente que, ao contrário do que se poderia imaginar, ele decidiu não mais realizá-lo.

“Para levar um grupo de milhares de pessoas, precisaria pedir segurança, policiamento e coisas que não quero pedir ao poder público”, explica. Foi em nome também da segurança, acrescenta ele, que o ponto de partida da caminhada, que sempre foi o Theatro Municipal, na praça Xavier de Toledo, mudou de lugar. Agora, é a entrada principal da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, na rua Xavier de Toledo, sempre às 20h.

“É um ponto mais iluminado e movimentado, achamos melhor começar lá e também evitar seguir por um tempo por determinadas vias enquanto a situação da violência não melhorar”, pondera, criticando as gestões municipais por não cuidarem do patrimônio da cidade, mas garantindo ter sempre “um viés otimista”.

“Vemos muita gente que frequenta os centros de cidades como Paris e Londres, mas dizem não ter coragem de andar pelo centro de São Paulo, que é uma cidade linda, muito linda e cheia de história, que merecia um destaque maior entre as grandes metrópoles do mundo”, diz Beutel.

De todo modo, ele orienta os participantes a evitarem levar objetos de valor e chegarem e saírem em grupos, evitando caminharem sozinhos pelas ruas mais desertas ao final do evento.

‘Banco, sim, e ponto final’

A ideia de formar uma atividade que focasse justamente o centro histórico de São Paulo à noite começou quando o grupo de pessoas que mora ou trabalha em torno da rua Barão de Itapetininga, que se reunia (e ainda se reúne) semanalmente para discutir os problemas da região e possíveis soluções e encaminhamentos aos órgãos administrativos, sugeriu fazer algo semelhante ao passeio noturno realizado em Barcelona, na Espanha.

A sugestão, lembra ele, veio de Carmen Gimenez, moradora da região, e de Nadir Khouri, antiga proprietária do restaurante Arroz de Ouro, pioneiro em alimentação macrobiótica na cidade, na década de 1970. Beutel imediatamente adotou a ideia, que teve sua primeira edição em setembro de 2005.

Já no ano seguinte, com o aumento da procura do passeio, Beutel resolveu profissionalizar a atividade, contratando guias de turismo credenciados, que paga do próprio bolso.

“Eu banco, sim, tiro do que ganho com meus restaurantes e ponto final, não preciso de ninguém”, conta esse apaixonado pela cidade, acrescentando que, se pudesse, “faria ainda mais, porque São Paulo merece”.


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