O dólar fechou em ligeira alta nesta sexta-feira (29), ao fim de mais uma sessão volátil que encerrou uma semana de forte instabilidade, a qual por sua vez concluiu um mês iniciado com otimismo e que termina com temor sobre a economia global e incertezas político-fiscais no Brasil.
O dólar à vista registrou oscilação positiva de 0,07% nesta sexta, a R$ 4,9435. Ao longo do pregão, variou de alta de 0,41% (para R$ 4,9607) a queda de 1,64% (a R$ 4,8592).
Na semana, o dólar valorizou-se 2,85%, maior alta desde outubro do ano passado. É a segunda semana seguida em que a cotação fecha mais alta, o que não ocorria também desde outubro.
A moeda segue acima de sua média móvel de 50 dias, o que pode ser interpretado como sinal de força no curto prazo.
Já o principal índice da bolsa brasileira recuou nesta sexta-feira, após reverter ganhos no meio da tarde diante de tombo das ações em Wall Street, e fechou o pior mês desde o período inicial da pandemia no país.
De acordo com dados preliminares, o Ibovespa caiu 1,38%, a 108.405,51 pontos, depois de duas altas consecutivas. O volume financeiro foi de R$ 25,9 bilhões.
O índice recuou 2,4% na semana, quarta baixa semanal seguida, e encerrou o mês em baixa de 9,7%, depois de série de quatro meses de alta. A desvalorização de abril representa o maior recuo em um mês desde março de 2020, quando o índice perdeu 29,9%.
Câmbio
O mercado de câmbio aqui voltou a descolar do comportamento global do dólar, mas desta vez para cima, já que no exterior a moeda norte-americana sofria um ajuste para baixo depois de escalar na véspera a máximas em duas décadas.
Além da comum demanda por hedge antes do fim de semana, operadores tampouco viram motivos para vender dólar após declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre discutir, depois das eleições, alteração da emenda constitucional do teto de gastos. O objetivo seria permitir o uso de recursos para obras de infraestrutura em caso de excesso de arrecadação de impostos.
O Ministério da Economia, contudo, não recebeu orientação do governo para estudar uma mudança no teto e não concorda com uma flexibilização da regra, informaram à Reuters três fontes da equipe econômica.
Para além dos eventos externos, com forte aumento das preocupações com aceleração do aperto monetário nos EUA e riscos de recessão em meio a novos surtos de Covid-19 na China e à guerra na Ucrânia, investidores notaram que o dólar repercutiu ainda nos últimos dias de abril renovadas tensões político-institucionais domésticas, num contexto cada vez mais focado nas eleições e na possibilidade de elevação de gastos para impulsionar o crescimento econômico.
Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual, avalia que o real pode ter menos vigor daqui para a frente, uma vez que a maior parte do impulso obtido a partir do rali das commodities pode ter ficado para trás. O economista vê uma espécie de “barrigada” do dólar no meio do ano, com a moeda chegando até 5,10 reais, por causa do “cenário mais desafiador para o câmbio na esteira do juro americano mais atrativo”.
“(Além disso), a gente não sabe como vai ser o próximo arcabouço fiscal, a gente não sabe se haverá novas flexibilizações no teto de gastos para tentar impulsionar crescimento econômico de uma maneira forçada”, disse.
O economista-chefe para Brasil e América do Sul do Rabobank, Maurício Une, mantém expectativa de que o dólar fechará o ano em 5,25 reais, valorização de 6,20% contra o fechamento desta sexta-feira.
Ele chama atenção para a perspectiva de que as políticas monetárias brasileiras e norte-americana tomem direções diferentes e desfavoráveis à taxa de câmbio brasileira, no caso de o Fed acelerar o ritmo de aumento de juros num momento em que o Banco Central do Brasil caminha para parar o ciclo de restrição monetária. Os dois bancos centrais vão se reunir na próxima semana.
“Há uma espécie de esgotamento dessa rotação em busca de ativos da América do Sul, de exportadores de commodities”, disse. “Junto com a eleição aqui assumindo maior protagonismo, isso tem potencial para gerar mais volatilidade”, comentou.
A volatilidade implícita nas opções de dólar/real para seis meses, intervalo que, portanto, inclui outubro, voltou a renovar nesta sexta-feira máximas em três anos e meio, evidenciando o grau maior de incerteza sobre os rumos da taxa de câmbio.
Em abril, o dólar saltou 3,79%, maior ganho mensal desde setembro de 2021 (+5,36%) e maior apreciação para o mês desde 2020 (+4,69%). De uma lista de 33 moedas, o real ficou no meio da tabela, que nas pontas tem rublo russo (+14,1%) e peso chileno (-7,8%).
Assim, o dólar reduziu as perdas no ano para 11,30%. De toda forma, real ainda lidera, com ampla margem, o ranking de melhores desempenhos em 2022 entre as mais importantes divisas globais.