Furtos nos pontos de vendas somaram R$ 3,2 bilhões em 2021, em contrapartida, vendas dos supermercadistas cresceram 10%, para R$ 611 bilhões
Daniele Madureira
São Paulo, SP
Carne, queijo, cerveja, refrigerante, desodorante, pilhas, chocolate e até Nutella são cada vez mais alvo de furtos em supermercados, apurou a Folha. De acordo com a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), os furtos nos pontos de vendas somaram R$ 3,2 bilhões em 2021, uma alta de 15% sobre as perdas de 2020. No mesmo intervalo, as vendas totais dos supermercadistas cresceram 10%, para R$ 611 bilhões.
Os produtos citados são os mais recorrentes em furtos, tanto em volume quanto em valor, segundo a associação. “O índice de furtos indica um agravamento da questão socioeconômica e, de certa forma, está fora do nosso controle”, diz o vice-presidente da Abras, Márcio Milan. Em março, reportagem da Folha revelou o aumento dos casos de crimes fomélicos (motivados pela fome), como os furtos de comida.
Segundo o executivo da Abras, a maioria dos furtos (54%) parte dos próprios clientes, mais do que o dobro em comparação ao realizado por funcionários (25%). “Cerca de 20% dos casos são praticados por fornecedores, quando uma caixa lacrada, por exemplo, chega à loja com uma quantidade de produtos menor do que a indicada.”
A associação estima que parte dos furtos são para revenda, por conta da quantidade levada das lojas.
Mas nem todos os produtos furtados são essenciais. A Chama Supermercados, por exemplo, registrou um aumento no furto de Nutella, que só parou quando a rede, dona de 15 lojas na zona leste de São Paulo, passou a confinar o produto.
“Trancamos os potes em uma prateleira próxima ao caixa, que só era aberta quando o cliente pedia”, diz Fábio Iwamoto, diretor do Chama Supermercados. “Também passamos a deixar as carnes embaladas a vácuo na vitrine, no balcão de atendimento, e não nas gôndolas refrigeradas, como antes.”
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As carnes se tornaram o maior alvo dos furtos na rede –em parte, realizado pelos próprios funcionários, diz Iwamoto. Mas também têm sumido das prateleiras desodorantes, bebidas alcoólicas e chocolates.
“Nosso índice de furtos aumentou de 1,87% para 1,96% no ano passado”, diz Iwamoto. “Mudamos algumas categorias de lugar dentro da loja, para aumentar a visibilidade”, afirma. A rede também tem investido em mais etiquetas antifurto, mais conferências de estoque e mais câmeras nas lojas. “Mas nem sempre as etiquetas antifurto funcionam ou são apropriadas para todas as embalagens. Precisamos ficar mais atentos”, diz.
PRODUTO VENCIDO AJUDOU SUPERMERCADO A PERDER R$ 11,4 BI EM 2021
Os furtos integram o índice de perdas dos supermercados, que em 2021 atingiu 1,87% das vendas totais, segundo a Abras, o que representa um prejuízo de R$ 11,4 bilhões. Esse número envolve desde produtos vencidos e avariados até erros administrativos, como falhas na contagem do estoque, passando pelos furtos.
Para aumentar o controle sobre o nível de perdas, os supermercadistas não pretendem ampliar a contratação de vigilantes ou fiscais de loja –o que encareceria ainda mais a operação. “É mais fácil aumentarmos o controle sobre a quebra operacional, o que envolve a mudança no prazo de validade dos produtos industrializados”, diz Milan.
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Desde a metade do ano passado, a Abras está discutindo com o Ministério da Agricultura, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) a mudança da regra atual, em que o prazo de validade está impresso no produto. Em vez disso, o consumidor encontraria no produto industrializado o aviso “consumir de preferência antes de” –o equivalente ao “best before”, adotado na Europa, diz Milan.
Os supermercados poderiam fazer promoções de produtos fora da validade, uma prática já adotada por mercados de periferia, os chamados “vencidinhos” –que vendem produtos próximos ao vencimento e, por isso, cobram menos que as grandes redes.
Detalhe: hoje, se um consumidor encontra um produto vencido no ponto de venda tem o direito de levar de graça o mesmo produto dentro da validade, ou outro semelhante, conforme um acordo firmado em outubro de 2011 entre o Procon-SP e a Apas (Associação Paulista de Supermercados), que foi replicado em outros estados.
Com a mudança na regra, essa obrigatoriedade deixaria de existir.
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Além disso, os supermercadistas também defendem, junto ao Ministério da Economia, uma ampliação da dedução do Imposto de Renda aos varejistas que doam alimentos avariados ou próximos do vencimento. Pela legislação atual, este índice está em 2% e eles pedem que seja reajustado para 5%. “Isso faria com que as redes dobrassem a quantidade de alimentos doados”, diz Milan.