Os franceses renovaram por mais cinco anos o mandato do presidente Emmanuel Macron e o resultado da eleição presidencial deste domingo (24) deverá ter uma repercussão positiva para a relação da França com o Brasil, avalia o economista e cientista político Thomás de Barros.
Os franceses renovaram por mais cinco anos o mandato do presidente Emmanuel Macron e o resultado da eleição presidencial deste domingo (24) deverá ter uma repercussão positiva para a relação da França com o Brasil, avalia o economista e cientista político Thomás de Barros.
“O resultado, sem dúvida é melhor para o Brasil do que seria a [vitória de] Marine Le Pen, uma política nacionalista e a favor do fechamento das fronteiras da França. Ela seria também contra o projeto do aprofundamento europeu”, argumenta.
O economista e cientista político do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) exemplificou com a discussão envolvendo o frango brasileiro no único debate entre os dois candidatos durante a campanha do 2° turno. Na ocasião, a candidata Marine Le Pen acusou Macron de propor uma abertura da economia francesa para o produto brasileiro, em detrimento dos agricultores franceses.
“Macron disse que não pelas questões ambientais. Mas, de fato, ele é mais favorável a acordos de livre comércio e talvez de uma versão reformulada do acordo entre União Europeia e Mercosul”, analisa, em referência ao acordo ainda não concluído entre os dois blocos econômicos.
Na avaliação de Thomás de Barros, ter Macron como chefe de Estado na França também favorece as relações comerciais entre os dois países, já que as empresas francesas estão muito presentes e têm peso na economia brasileira.
“A França é muito importante para o Brasil e as empresas brasileiras. Apesar de a França não ter o maior PIB do mundo nem ser a maior parceira do Brasil, as empresas francesas são as empresas estrangeiras que mais contratam no Brasil”, afirma, citando que cerca de 500 mil brasileiros são empregados por empresas francesas em diversos setores como do varejo e automotivo. “Tudo que pode favorecer a integração desses dois países pode ser favorável ao Brasil”, afirma.
O futuro de Marine Le Pen
Especialista em questões relacionadas à extrema direita e populismo, Thomás de Barros disse ter ficado positivamente surpreso com a vitória mais expressiva de Macron do que previam as últimas sondagens antes do pleito.
O líder centrista venceu Marine Le Pen com cerca de 58,5% dos votos válidos, ou seja, com até três pontos percentuais acima do que indicavam as sondagens durante a campanha. Marine Le Pen registrou 41,5%, um desempenho melhor do que na eleição de 2017 quando conquistou 33% no 2° turno contra o mesmo adversário.
“Apesar de ter uma derrota um pouco mais expressiva do que a esperada, ela aumentou a quantidade de votos em relação a 2017. Ela pode dizer que se fortaleceu eleitoralmente no país”, avalia o cientista político.
Por um lado, o resultado conforta a estratégia usada nos últimos anos de tornar a extrema direita mais “palatável” para os eleitores do país. “Ela se esforça para se ‘normalizar’, e a grande mídia fala muito da extrema direita, de uma forma que também a normaliza. O próprio governo Macron também acaba normalizando esta oposição de direita radical”, diz Thomás de Barros.
Ele aponta como um dos desafios para a extrema direita na França constituir um bloco unido, que ficou fissurado com o surgimento da candidatura do Éric Zemmour, quarto colocado no 1° turno. O político, conhecido por suas ideias xenófobas e ultranacionalistas, apoiou Marine Le Pen no 2° turno. “Talvez haja um racha dentro desse bloco”, opina.
Outro desafio apontado pelo especialista é a capacidade de o partido Reunião Nacional, de Marine Le Pen, eleger vários deputados nas próximas eleições legislativas, previstas para junho. “Com uma bancada pequena no Congresso, será que ela conseguirá fazer oposição?”, questiona o cientista político.
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