O descontentamento por parte do eleitorado, especialmente da esquerda, era evidente ao se verem forçados, a escolher entre Macron e Le Pen
No Campo de Marte, em Paris, bandeiras francesas e europeias eram agitadas entre gritos de alegria de dois mil apoiadores de Emmanuel Macron, quando seu rosto apareceu nas telas como o vencedor da eleição presidencial na noite deste domingo (24).
“Estou aliviada, pois estava com muito medo”, confessa Jackie Boissard. Macron consegue a reeleição com cerca de 58%, mas esta bancária de 60 anos alerta que é preciso “levar em conta todos os votos, porque há muito ódio neste país”.
Às 20h02 locais, os presentes cantam a Marselhesa, o hino francês. Cinco minutos depois, um DJ toca músicas do famoso grupo de eletrônica Daft Punk, como “One more time” (Mais uma vez). Os simpatizantes eufóricos aguardam a chegada de seu campeão.
Uma hora e meia depois, Macron finalmente aparece. Como em 2017, chega com o Hino à Alegria de Beethoven ao fundo, porém, ao contrário da outra vez, ele não está sozinho, mas acompanhado de sua esposa Brigitte e um grupo de jovens.
Como se tivesse ouvido o conselho de Boissard, ele promete em um breve discurso ser o “presidente de todos” os franceses e governar com “ambição e benevolência”. Pouco antes das 22h, a mezzo-soprano Farrah El Dibany canta o hino francês.
“Não entendem nada”
A cerca de cinco quilômetros, a decepção invade o Pavillon d’Armenonville, na floresta de Boulogne, quando partidários da candidata ultradireitista Marine Le Pen veem o rosto de Macron surgir na televisão.
“Os franceses não entendem nada. Terão o que merecem”, reclama Olivier Mondet após o anúncio da derrota de seu candidato. “Durante cinco anos, (…) vamos receber ainda mais pessoas de todos os lugares e eu sou francês”, lamenta o enfermeiro de 62 anos.
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Após uma breve conversa por telefone com o vencedor, Le Pen toma rapidamente a palavra por volta das 20h10, com os olhos ligeiramente húmidos, mas com espírito combativo. “Continuarei meu compromisso com a França e os franceses”, garante.
O champanhe “Marine presidente” foi aberto antes do anúncio do resultado, mas o clima não era festivo, apesar da extrema-direita ter conquistado oito pontos a mais que em 2017 e o melhor desempenho de seu movimento em uma eleição presidencial.
“Um pouco farta”
Nos arredores de Paris ao coração da Borgonha, do Pacífico Sul à Bretanha, milhões de franceses haviam se mobilizado neste domingo para cumprir seu “dever” ou, inclusive, “evitar uma guerra civil”. Outros, desiludidos, preferiram ignorar as urnas.
Yolande Yédagni, uma desempregada de 57 anos, considerou “um dever ir votar” e se declarou tranquila sobre o resultado da votação, ao contrário de Bernard Maugier, de 76 anos. Este aposentado com um gorro escrito “NY” assegurou que votou “para evitar uma guerra civil”.
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“Entre a peste e a raiva, devemos tomar a decisão correta”, disse Pierre Charollais, um aposentado de 67 anos, advogando por um “voto responsável” em um contexto “particular” pela guerra na Ucrânia e pela presidência francesa da União Europeia (UE).
O descontentamento por parte do eleitorado, especialmente da esquerda, era evidente ao se verem forçados, como em 2017, a escolher entre Macron e Le Pen. A sudeste de Paris, em Maisons-Alfort, Katia, uma vendedora de 27 anos, votou “sem convicção nenhuma, um pouco farta” e por “medo” do que poderia acontecer.
“Honestamente, não tenho vontade de colocar uma cédula na urna, não vejo interesse. Prefiro passar meu domingo tranquila com minha família”, afirmou a milhares de quilômetros de distância, na ilha da Reunión, Emmeline Picard, uma jovem desempregada de 28 anos.
“Por convicção”
No sudeste da França, nos Pirineus, Jean Lassalle, candidato derrotado no primeiro turno da eleição presidencial, por fim, decidiu se abster diante da urna em seu colégio eleitoral de Lourdios-Ichère, constatou uma fotógrafa da AFP.
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O candidato ruralista, que obteve 3,13% dos votos em 10 de abril, anunciou, em um primeiro momento, que votaria em branco, mas acabou decidindo que esse voto “já não estava mais à altura” frente a uma situação “preocupante”, assegurou à AFP.
Em Dijon (leste), na região produtora de vinhos da Borgonha, Lucien Chameroy, de 80 anos, foi votar sem dúvida. “As pessoas não percebem. Se não votarem e a rua decidir, serão as minorias que tomarão o poder”, alegou.
No colégio eleitoral 28, localizado em um bairro modesto onde o esquerdista Jean-Luc Mélenchon venceu no primeiro turno, Charley Grolleau, de 41 anos, reconheceu que votou em “um candidato que não é perfeito”. “Mas votei por convicção”, acrescentou.
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© Agence France-Presse
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