Anatomia de um Escândalo, sucesso da Netflix, vale a pena?

Com temas densos e técnicas de filmagem sofisticadas, a nova série de sucesso da Netflix capta nossa atenção do começo ao fim deixando um gostinho de quero mais

Não é que Anatomia de um Escândalo é boa mesmo? A nova série da Netflix que estreou no último dia 15 tem se mantido invicta no top 5 e chamado muita atenção. Primeiro por seus temas urgentes, segundo pelas técnicas de filmagem usadas, bem sofisticadas e inovadoras para uma série de TV, mostrando que as plataformas de streaming têm investido pesado em produções próprias, a fim de concorrer com o cinema. 

A série é baseada no livro homônimo de Sarah Vaughan, que na verdade se chama Sarah Hall e foi repórter sênior de política do jornal britânico The Guardian por muitos anos, até se dedicar à carreira de escritora de thrillers psicológicos.

A trama conta a história de Sophie (Sienna Miller) e James Whitehouse (Rupert Friend). Ela é uma linguista da classe alta inglesa que abdicou da carreira para se dedicar à família perfeita e ele, membro da elite, cobiçado pelas mulheres e um dos 22 ministros que fazem parte do Gabinete do Reino Unido, o mais alto conselho administrativo do país.

James está prestes a ter um projeto de lei aprovado no Parlamento quando um segredo de seu passado vem à tona: um caso extraconjugal que teve com uma assessora de seu gabinete, Olivia Lytton (Naomi Scott, a princesa Jasmine de Alladin).

Até aí, nada de novo na tradicional família britânica. Ficam todos abalados, um gerente de crises é designado pelo primeiro ministro para lidar com a situação e, apesar do choque por ter seu ideal de família estremecido, Sophie segura a onda e se mostra uma eficiente mulher de político, sofrendo discretamente. 

Até que James é chamado a júri, pois, aparentemente, a relação não foi um simples affair. A partir daí o caso ganha um peso muito maior e vai parar nas mãos da implacável promotora de justiça Kate Woodcroft (Michelle Dockery, de Dowtown Abbey) que representa a Coroa Britânica em um episódio que abala o país inteiro, além da vida pessoal dos envolvidos.

Sempre tem mais sujeira debaixo do tapete

O título Anatomia de um Escândalo é bem autoexplicativo, pois a série mostra, passo a passo, o quanto estruturas mantenedoras de privilégios protegem seus interesses. O quanto homens brancos de elite são criados dentro de um sistema que os exime das consequências de seus atos, encorajando-os a agir como se estivessem acima da lei. 

No final das contas, as mulheres da trama vão se surpreendendo, juntamente com o público, ao descobrirem cada vez mais camadas em uma história que parecia ser corriqueira. Uma a uma, dentro de seus respectivos recortes na trama, vão sendo impactadas de formas diferentes em um crescente de tensão muito bem construído ao longo dos seis episódios de 40 minutos da série. Temas urgentes como consentimento sexual, luta de classes, minorias, fake news, justiça e o conceito de família são muito bem representados de uma forma envolvente e contemporânea.

Michelle Dockery como a implacável promotora Kate Woodcroft

Divulgação/Netflix

Uma bela produção

Anatomia de um Escândalo trabalha muito bem os sentimentos dos atores principais com recursos gráficos que arrastam o espectador para a intensidade das emoções retratadas. Os enquadramentos de câmera inusitados, câmeras invertidas, ricochetes, fade outs súbitos, que causam sensação de confusão, são recursos bem usados, mas que, em certo momento, passam do ponto e cansam o público.

 Os takes amplos dos tradicionais edifícios históricos ingleses nos lembram o tempo todo sobre o quão tradicional e conservadora pode ser aquela sociedade. São bem didáticas e bonitas as cenas em que Sophie alterna entre lembranças da juventude, sua visão sobre como teria sido a traição do marido e a quebra de seu ideal de família, que a deixa perdida e caindo em um abismo sem fim. 

A produção foi criada por dois cineastas de sucesso: David E. Kelley, de Big Little Lies, e Melissa James Gibson, de House of Cards e The Americans. Eles também assumem a produção executiva ao lado de Liza Chasin, Bruna Papandrea, Allie Goss, da autora do livro Sarah Vaughan, e Margaret Chernin.

Já a ótima diretora S.J. Clarkson (Jessica Jones, Orange is the New Black, Os Defensores) é responsável pela direção de todos os episódios. Em uma produção onde as mulheres assumem papéis cruciais no enredo central, tê-las na condução e direção da narrativa faz toda a diferença.

Leva que tá doce: Enredo envolvente, ótimas atuações, temas relevantes. Pronta para ser devorada.

Dois pelo preço de um: Anatomia de um Escândalo tem uma vibe meio Sucession, que também virou hit, só que na HBO.

Presta atenção, freguesia: Na atuação de Michelle Dockery, que claramente se destaca no elenco.

Anatomia de um escândalo

Anatomia de um Escândalo

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