Tudo isso pode resultar em esforço adicional do Banco Central brasileiro para tentar trazer a inflação de volta às metas
Os juro futuros fecharam a quinta-feira, 14, em alta. O principal vetor a conduzir a curva nesta quinta-feira foi o cenário externo, pelo reforço na percepção de respostas agressivas dos bancos centrais às pressões inflacionárias, mas a cena local também inspira cautela. O reajuste linear de 5% ao funcionalismo concedido pelo governo nem agradou às categorias nem cabe no Orçamento, trazendo mais risco fiscal e de prolongamento das paralisações de servidores.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,105%, de 13,073% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,702% para 12,80%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 12,155%, de 12,031% ontem, e o DI para janeiro de 2027, a 11,86%, de 11,72%.
“O mercado continua cauteloso com uma possível mudança de postura da política monetária dos mercados desenvolvidos para uma mais agressiva e com o impacto fiscal e inflacionário do populismo eleitoral”, afirma o economista-chefe do Haitong, Marcos Ross, em relatório.
A trajetória ascendente das taxas, não só a sessão desta sexta-feira, foi a tônica ao longo da semana, marcada pelas mensagens do Federal Reserve reiterando a probabilidade de uma aceleração do ritmo de alta de juros para 50 pontos em maio, hoje com o presidente da distrital de Nova York, John Williams. Com isso, os yields dos Treasuries voltaram a escalar, com o da T-Note de dez anos batendo 2,83% nas máximas do dia. “O mercado reage à ideia de um Fed mais agressivo. A preocupação com a política monetária não para de aumentar, tanto que a taxa de dez anos (T-Note) passou com alguma folga os 2,80%”, disse o estrategista de renda fixa da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) deu a impressão de pouca pressa para apertar os juros, mas o mercado desconfia que isso não se sustentará. “Por ora, o Fed segue à frente do BCE e o dólar ganha força frente ao euro, mas as chances de mudança desta tendência nos próximos meses, mesmo que apenas na margem, não devem ser desconsideradas”, afirmam os economistas da MCM.
Ao mesmo tempo, o petróleo se afastou da marca de US$ 100 e voltou a fechar acima de US$ 110 por barril, no caso do Brent para junho. A commodity até operava em baixa mais cedo, mas inverteu o rumo após reportagem do The New York Times informar que a União Europeia prepara o esboço de um plano para proibir a importação da commodity da Rússia.
Tudo isso pode resultar em esforço adicional do Banco Central brasileiro para tentar trazer a inflação de volta às metas. A ideia de que o ciclo da Selic terminaria com apenas mais uma alta de 1 ponto porcentual, para 12,75%, em maio vem perdendo força desde a divulgação do IPCA de março acima do teto das estimativas.
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Na XP Investimentos, a perspectiva é de inflação mais persistente e inercial. “É o momento de o Banco Central ser mais firme diante de uma inflação mais inercial. Acreditamos que a inflação continuará pressionada em junho, levando a mais um aumento de 1 ponto porcentual da Selic”, comentou Caio Megale, economista-chefe, ao prever o fim do ciclo de alta dos juros com os juros básicos a 13,75%.
A arena fiscal também tem sido mais hostil ao controle inflacionário, com a pressão do funcionalismo por reajustes que não cabem no Orçamento testando os limites do populismo eleitoral. Os servidores não receberam bem o aumento linear de 5% decidido pelo governo, que, por si só, teria um impacto bem maior – estimado em R$ 6,3 bilhões – do que o previsto no Orçamento, de R$ 1,7 bilhão, para policiais federais.
Estadão Conteúdo
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