Argentinos querem levar o coração de Maradona para a Copa do Mundo

Maradona morreu novembro de 2020. Por causa da investigação sobre as causas do seu falecimento, foi enterrado sem o coração, fígado e rins

Alex Sabino
São Paulo, SP

Na primeira Copa do Mundo após a morte de Diego Maradona, um grupo de torcedores argentinos iniciou uma campanha para que o coração do camisa 10 seja levado para o Qatar durante o torneio.

“El Corazon de Diego” (o coração de Diego, em espanhol) quer criar um movimento de apoio popular para que o órgão esteja no país-sede do Mundial entre novembro e dezembro.

“Todos os maradonianos fanáticos apoiam isso. Ele sempre acompanhou a Argentina, não apenas no futebol. Queremos que seu coração possa viajar ao Qatar com a seleção”, afirma o publicitário Javier Menstati, um dos idealizadores da campanha, à reportagem.

Maradona morreu em 25 de novembro de 2020 por insuficiência respiratória. Ele tinha 60 anos. Por causa da investigação sobre as causas do seu falecimento, foi enterrado sem o coração, fígado e rins. Os órgãos estão sob a custódia da Justiça Argentina, em um prédio em La Plata, na Grande Buenos Aires.

Quando sofreu a parada respiratória, ele era técnico do Gimnasia y Esgrima, clube da cidade. O médico Leopoldo Luque e a psiquiatra Agustina Cosachov foram indiciados por homicídio culposo. Os termos da internação domiciliar de Maradona, que havia passado por cirurgia na cabeça no mês anterior à morte, não foram respeitados.

Foi divulgado no ano passado um plano de barras bravas (o núcleo mais violento das organizadas) do Gimnasia para roubar o coração de Maradona. A segurança foi reforçada.


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“Nada melhor que o coração de Diego esteja no Qatar para que tanto ele quanto os jogadores e os amantes do futebol se sintam próximos de alguma maneira”, diz Cesar Perez, administrador de La Casa de D10S, a residência onde o jogador e sua família viveram no bairro da Paternal, em Buenos Aires, quando o então jogador começou a se destacar, na segunda metade dos anos 1970. O local foi convertido em museu.

A partir do torneio na Espanha, quando participou pela primeira vez como atleta, Maradona esteve presente em todos os Mundiais.

Jogou em 1982, 1986, 1990 e 1994 (quando foi suspenso por doping). Em 2002 e 2006, viajou como garoto-propaganda de patrocinadores. Quatro anos mais tarde foi treinador da seleção argentina. Em 2014 e 2018 apresentou, do Rio e de Moscou, um programa de TV transmitido pela Telesur, emissora multiestatal sul-americana financiada por governos de esquerda da América Latina.

Ele causou sensação na Rússia também nos camarotes dos estádios onde a Argentina jogou. Fumou charuto, o que é proibido pela Fifa, dançou com torcedores, fez gestos obscenos e teve queda de pressão na vitória da equipe sobre a Nigéria, que selou a classificação para as oitavas de final.


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“Será o último Mundial de Messi. Para os argentinos, há essa energia que se vive desde que Diego morreu. Entre as coisas impossíveis que aconteceram em sua vida, essa [levar seu coração para a Copa] seria mais uma”, completa Menstati.

Quando começar a competição, o atacante do Paris Saint-Germain estará com 35 anos.

Os criadores acreditam que a campanha terá sucesso apenas se eles não forem os donos da ideia. A proposta é torná-la algo popular, de todos no país. Apenas assim seria possível encontrar uma forma legal de conseguir o consentimento da família e arcar com os custos de traslado, armazenamento e segurança.

Uma das propostas consideradas era que viajasse com a delegação argentina.


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“Entramos em contato com dois jogadores da seleção para que façam parte da campanha. Há artistas que se propuseram a ajudar e a fazerem esculturas que representem o coração de Diego. Entidades de doações de órgãos estão interessadas em patrocinar e, com isso, trazer visibilidade para o tema. A repercussão tem sido bastante interessante”, diz o publicitário.

Há um vácuo legal com relação ao assunto porque a legislação internacional fala em transporte de órgãos apenas para transplantes. Não seria o caso. Teria de ser criada uma jurisprudência, ainda a ser definida, sobre como levar o coração de uma pessoa morta, com o consentimento de sua família, para outro país e depois trazê-la de volta à nação de origem.

Segundo ele, há gente de Nápoles que entrou em contato e se propôs a ajudar na mobilização. Foi pelo clube da cidade italiana que Diego Maradona viveu seu auge e levou o time, até então irrelevante no cenário nacional, a dois títulos da Série A e uma Copa da Uefa.


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“Resolvemos fazer o contrário [do que normalmente é feito]. Não apresentamos uma proposta fechada. Colocamos a ideia para que a iniciativa seja de todos e a partir daí ver o que vai acontecer”, finaliza Menstati.


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A lembrança usada pelos criadores da campanha é uma das frases mais famosas de Maradona sobre si mesmo.

“Se morro, quero voltar a nascer e ser jogador de futebol. E quero voltar a ser Diego Armando Maradona. Sou um jogador que deu alegria às pessoas. Isso basta e sobra.”

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