Médico do Samu Andre Lorscheitter Baptista está preso preventivamente pela morte da enfermeira Patricia Rosa dos Santos em Canoas. Defesa do investigado diz que ele é inocente. Médico é preso em Canoas por suspeita de matar a companheira com medicamento
Reprodução/RBS TV
A Polícia Civil confirmou, neste sábado (23), o resultado da perícia do corpo da enfermeira Patricia Rosa dos Santos, de 41 anos, morta em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O laudo indicou a presença de dois sedativos no organismo da vítima. O marido dela, o médico do Samu Andre Lorscheitter Baptista, de 48 anos, foi indiciado e está preso preventivamente pela suspeita do crime.
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Os medicamentos encontrados no corpo de Patricia foram o Zolpidem, que age no sistema nervoso central e induz o sono em menos de 30 minutos, e o Midazolam, outro sedativo e indutor do sono, destinado a pacientes adultos. A perícia identificou lesões nas mãos e nos pés da vítima, regiões nas quais os medicamentos teriam sido aplicados pelo suspeito.
“O laudo pericial, elaborado com excelência pelo Instituto-Geral de Perícias, corrobora toda a investigação realizada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, que, desde a suspeita levantada pela família, não mediu esforços para esclarecer as circunstâncias da morte de Patricia. O trabalho integrado das instituições permitiu elucidar a forma como os fatos decorreram na noite do crime, assim como as substâncias utilizadas para ceifar a vida da vítima”, disse ao g1 a delegada Graziela Zinelli.
O médico foi indiciado por quatro crimes: feminicídio qualificado (por emprego de veneno e meio que impossibilitou a defesa da vítima); furto qualificado (de medicamento levado do estoque do Samu de Porto Alegre); falsidade ideológica (por omitir ou fazer declaração falsa do endereço de uma arma registrada); e adulteração de local de crime (por movimentar e retirar o corpo da vítima do local, além de “maquiar”, segundo a polícia, a cena do crime).
O advogado Luiz Felipe Magalhães, responsável pela defesa de Andre Lorscheitter Baptista, afirmou que ainda não analisou o resultado do laudo e que deve se manifestar nos próximos dias. Quando o médico foi indiciado, no dia 8 de novembro, a defesa afirmou que “o investigado nega veementemente qualquer envolvimento no ocorrido, sendo totalmente inocente das acusações imputadas, e reitera que as circunstâncias apontadas não condizem com a verdade dos fatos”.
A polícia também indiciou uma equipe do Samu de Canoas por adulteração de local de crime. Um médico, um enfermeiro e um motorista de ambulância, que não tiveram os nomes divulgados, teriam movimentado o corpo da vítima após a morte. A prefeitura do município disse que “notificou a empresa terceirizada responsável pela gestão do Samu, para que os fatos sejam esclarecidos”.
Patricia Rosa dos Santos morreu, em Canoas, após aplicação de medicamentos
Arquivo pessoal
Relembre o caso
A Polícia Civil afirma que a enfermeira foi morta no dia 22 de outubro. Nesse dia, por volta das 8h, o médico teria ligado para os familiares da esposa comunicando a morte dela. Quando os parentes chegaram à residência do casal, o suspeito apresentou um atestado de outro médico do Samu, que informava como causa da morte infarto agudo no miocárdio. Os familiares desconfiaram da versão, comunicando a polícia.
Segundo a polícia, o médico disse que a esposa havia dormido no sofá do imóvel após comer sorvete, mas ela foi encontrada morta em outro cômodo da casa. Após perícia na sobremesa, foi encontrado o remédio Zolpidem no pote, que a investigação indica que foi usado para fazer a vítima dormir.
Indicado para tratamentos com o prazo máximo de quatro semanas, o Zolpidem age no sistema nervoso central e induz o sono em menos de 30 minutos.
A polícia também encontrou remédios em uma mochila que estaria dentro do carro do médico. Eram Zoplidem, Midazolam e Succitrat, os dois últimos de uso restrito, além de gaze, agulhas e outros insumos médicos.
O Midazolam é um medicamento sedativo e indutor do sono destinado a pacientes adultos. Já o Succitrat é um relaxante muscular em anestesia de curta duração.
O Samu de Porto Alegre disse ter identificado a falta de um frasco de Midazolam na troca do plantão do médico em 21 de outubro – um dia antes da morte da esposa.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) encontrou marcas de injeção em um dos braços e em um dos pés da vítima. A polícia acredita que as marcas indicam as partes do corpo da enfermeira em que o médico teria administrado as doses dos remédios. Gaze com sangue também foi identificada.
Preso médico suspeito de matar a mulher em Canoas
Investigação
No momento da prisão, o delegado Arthur Reguse classificou o investigado como uma “pessoa fria, desconexa e com dificuldade de se expressar”.
“Ele não tinha comportamento de uma pessoa que havia recém perdido a esposa, também constatamos que o local do crime estava com uma organização diferente da que ele havia descrito. Ele não soube explicar a razão de ter a medicação em casa. Além disso, ele é médico emergencista do Samu, mas não teria realizado manobras cardiorrespiratórias para salvá-la, ainda que tenha conseguido um laudo de outro médico apontando a causa da morte como natural, por infarto agudo no miocárdio”, disse o delegado.
Ao longo da investigação, um episódio entre o casal chamou a atenção das autoridades: ele já teria dopado a esposa anteriormente, mas com o objetivo de forçar um aborto. A manobra não deu certo.
“Patricia teve o filho, que nasceu saudável e hoje tem 2 anos. Ele dopou ela administrando uma medicação e inseriu instrumentos médicos no interior do útero com o objetivo de causar o aborto”, relatou Reguse.
Segundo familiares dela, não haveria histórico de violência entre os dois além desse caso. Não há informações a respeito de um possível desacerto entre os dois, como um término do relacionamento, também.
‘Monstro’ e ‘inimigo’
Cerca de 300 amigos e familiares da enfermeira Patricia Rosa dos Santos se reuniram no dia 2 de novembro, em Canoas, para pedir justiça no caso. Emocionada, a mãe da enfermeira, Mareci Rosa dos Santos, disse estar perplexa com a postura do genro, a partir das informações divulgadas pela Polícia Civil.
“Tem que mostrar para esse mundo como ele se mostrava para a minha família. Ele se mostrava um anjo bom, mas era um monstro”, disse a mãe.
A irmã mais velha de Patricia, Priscila Rosa dos Santos, disse que a vítima “dormia com o inimigo”.
“Ele sempre foi esquisito, sempre foi estranho, sempre foi diferente. E ela acreditou nele. Ele manipulava, ele conseguia fazer ela acreditar que ele era bom”, disse a irmã.
Mantida prisão de médico suspeito de matar a mulher em Canoas
Nota da defesa do médico:
Comunicado enviado em 8 de novembro de 2024
“Em atenção à imprensa e à sociedade, e considerando os recentes desdobramentos do caso envolvendo o Sr. André Lorscheitter Baptista, sua defesa técnica, representada pelo advogado Luiz Felipe Mallmann de Magalhães, vem a público prestar os seguintes esclarecimentos que considera necessários ao momento.
Sobre o apressado indiciamento de André pelo suposto crime de feminicídio contra sua então esposa, Patrícia Rosa dos Santos, e demais crimes correlatos, a defesa reafirma que o investigado nega veementemente qualquer envolvimento no ocorrido, sendo totalmente inocente das acusações imputadas, e reitera que as circunstâncias apontadas não condizem com a verdade dos fatos.
Com todo o respeito à instituição da Polícia Civil, a defesa técnica destaca que o procedimento de apuração não foi conduzido com a necessária imparcialidade, tendo-se observado desde o início uma clara tendência de direcionar a investigação para uma única linha de suspeita, com foco em reunir elementos para imputar a culpa a André, sem considerar adequadamente todas as informações disponíveis.
Isso é evidenciado pelo fato de que o inquérito foi concluído sem a oitiva de diversas testemunhas indicadas pela defesa, que poderiam contribuir significativamente para o esclarecimento dos fatos.
Outro ponto de destaque é o fato de que o indiciamento por feminicídio se deu sem a apresentação de qualquer motivação. Não há, em momento algum, qualquer prova ou indício que sustente a alegação de uma possível motivação – obviamente inexistente – para o crime, lacuna na fundamentação do indiciamento que reforça ainda mais a improcedência das acusações.
Ademais, a defesa repudia a postura do Delegado de Polícia ao utilizar o caso como meio de autopromoção, ao divulgar à imprensa informações e elementos do inquérito aos quais a defesa ainda não teria tido acesso ou que sequer estavam documentados no procedimento investigatório, conduta essa que compromete a transparência da apuração e a confiança na Instituição.
Ainda, em relação à notícia sobre a instauração de um novo inquérito, que apura suposto crime de abuso por parte de André contra seu filho, a defesa esclarece que se trata de fato inverídico, amparado em denúncia anônima totalmente infundada, que busca de forma indevida detratar ainda mais a imagem de André e alienar o filho de seu pai. O Sr. André sempre demonstrou ser um excelente pai, com um relacionamento afetuoso e dedicado ao seu filho, fato inclusive corroborado pelos depoimentos presentes no Inquérito Policial, e jamais praticaria qualquer ato de crueldade.
André Lorscheitter Baptista seguirá firme na defesa de sua inocência e confia que, dentro dos procedimentos legais cabíveis, conseguirá comprovar a falsidade das acusações que lhe são imputadas. Sua defesa continuará atuando com rigor e respeito, buscando sempre o esclarecimento da verdade.”
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