ANTES E DEPOIS: seis meses após cheias no RS, veja como estavam e como estão lugares atingidos


Enchentes deixaram 183 mortos e 27 desaparecidos. Estado demonstra sinais de recuperação em algumas áreas, enquanto tenta superar desafios quase 200 dias após desastre. Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, em outubro
Eduardo Oliveira/MPOR
Este início de novembro marca os seis meses das enchentes que mataram 183 pessoas e deixaram 27 desaparecidos no Rio Grande do Sul. Passado meio ano da tragédia, o estado demonstra sinais de recuperação, com a retomada de atividades econômicas e sociais.
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Em outubro, o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, voltou a receber voos após a reforma da pista, que ficou inundada por mais de 20 dias. O Mercado Público e os estádios da dupla Grenal, por exemplo, reabriram ao público ao longo dos últimos meses. Por outro lado, os esforços de recuperação seguem em outras áreas.
Quase 200 dias depois do desastre, o g1 conferiu a situação de locais e personagens marcantes do maior desastre climático da história do RS, além da situação do estado na habitação, educação e saúde:
Aeroporto Salgado Filho
Estação Rodoviária
Mercado Público
Arena do Grêmio
Beira-Rio
Praça da Alfândega
Comportas
Cavalo Caramelo
Habitação, educação e saúde
Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, em maio de 2024
Reprodução/RBS TV
Aeroporto Salgado Filho
Estacionamento do aeroporto Salgado Filho durante e depois das enchentes
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Após mais de cinco meses, o Aeroporto Salgado Filho voltou a receber voos comerciais em 21 de outubro. O terminal, que fechou no dia 3 de maio após as fortes chuvas, funcionava de forma parcial, com os voos decolando da Base Aérea de Canoas, na Região Metropolitana.
“A última vez que estive no estado foi em maio. É bem simbólico para mim estar voltando nesse momento. Participar desse momento é importante”, disse a professora Lucimara Zachow, passageira do primeiro voo a desembarcar na capital no dia 21.
A previsão é de que as obras sejam 100% concluídas no final do ano, com a retomada dos voos internacionais no dia 16 de dezembro.
Estação Rodoviária
Rodoviária de Porto Alegre durante enchente, em maio de 2024, e depois, em outubro de 2024
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A Estação Rodoviária de Porto Alegre retomou as operações em junho, depois de um mês fechada em razão das cheias. Atualmente, conforme o gerente de operações da rodoviária, Jorge Rosa, cerca de 90% das viagens estão normalizadas. Aproximadamente 60 lojas, lanchonetes e espaços comerciais do local já voltaram a funcionar.
No dia 20 de setembro, os trens da Região Metropolitana voltaram a chegar a Porto Alegre depois de quatro meses. Atualmente, das 22 estações, três ainda estão fechadas: São Pedro, Rodoviária e Mercado, todas na capital. A previsão de reabertura é para dezembro.
Nas estradas, mais de 13 mil quilômetros de rodovias foram afetados pela enchente, de acordo com o governo estadual. Precisam ser reconstruídas 14 pontes levadas pelas águas, mas nenhuma foi entregue até agora.
Mercado Público
Corredor interno do Mercado Público de Porto Alegre durante a enchente de maio e, no final de setembro, durante maratona
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Localizado no Centro Histórico, o Mercado Público reabriu em 14 de junho, cerca de 40 dias após fechar. No primeiro momento, restaurantes do segundo piso e lojas com acesso direto para a rua voltaram a operar. Em setembro, o interior do prédio histórico fez parte do percurso da Maratona Internacional de Porto Alegre.
“A gente demonstra depois desse episódio o quanto o povo gaúcho é guerreiro e está dando a volta por cima”, diz a advogada Fernanda Passini, que disputou a maratona.
No início de outubro, o Mercado Público completou 155 anos. A comemoração teve balões brancos e um bolo de 1,5 metro distribuído aos frequentadores.
“Agora, é olhar para frente, criar um novo mercado, fazer com que as pessoas voltem a circular pelo mercado e que a enchente fique só nos livros”, diz Rafael Sartori, que trabalha no local.
Mercado Público em maio e em outubro de 2024
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Arena do Grêmio
Arena do Grêmio em maio e em outubro de 2024
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A cidade que vibra pelo futebol voltou a assistir aos jogos em casa. O Grêmio retornou à Arena em 1º de setembro, após 134 dias fechada. Em 26 de outubro, diante do Atlético Goianiense, o estádio voltou a operar em sua capacidade total e com todos os serviços normalizados.
“Muito tempo sem vir. É bom estar aqui de volta. As três cores estão mais fortes do que nunca”, fala a modelo Martina Schneider, torcedora do Grêmio.
Beira-Rio
Estádio Beira-Rio em maio e em outubro de 2024
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Já o Inter voltou a receber uma partida no Beira-Rio em 7 de julho. Foram 70 dias longe do estádio até a partida contra o Vasco, pelo Campeonato Brasileiro. O gramado ficou cerca de 20 dias submerso. O primeiro clássico Grenal realizado em Porto Alegre após a enchente foi no dia 19 de outubro. O jogo terminou com vitória colorada, por 1 a 0.
“A volta do Grenal depois da enchente é simbólica para ambos os lados. É uma redenção, um marco de um recomeço para todo mundo”, diz Adelar Marques, dono de um bar que funciona em frente ao Beira-Rio.
Praça da Alfândega
Estátua dos poetas Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana durante enchente de maio de 2024 e na Feira do Livro, em novembro de 2024, em Porto Alegre
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Na sexta-feira (1º), a Praça da Alfândega – que ficou completamente inundada em maio – voltou a ser a praça da literatura. O local, no Centro Histórico da capital, recebe tradicionalmente a Feira do Livro. Neste ano, o evento chega à 70ª edição.
O editor Luís Fernando Araújo perdeu 33 mil livros na enchente. Ele e tantos outros livreiros apostam no evento para ajudar a reerguer o setor.
“A gente está participando de tudo que é feira que aparece para poder se capitalizar. A expectativa é muito boa. Na verdade, a Feira do Livro sempre é boa para o ramo livreiro, tanto para livrarias como para editoras”, diz.
Comportas
Comporta do Muro da Mauá, em Porto Alegre, em maio de 2024 e em novembro de 2024
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Perto da Praça da Alfândega, fica o Muro da Mauá – estrutura projetada há cerca de 50 anos para conter o avanço do Guaíba sobre o Centro Histórico. Na enchente de maio, a água passou pelas comportas, que são os portões de ferro que permitem o trânsito entre os dois lados do paredão.
Com as falhas de vedação nas comportas, a prefeitura da capital usou sacos de areia para, emergencialmente, tentar impedir a passagem da água para o centro da cidade.
Das 14 comportas, sete vão ser fechadas definitivamente a partir de 2025. Entre elas, a de número 3, uma das protegidas com sacos de areia.
Cavalo Caramelo
Cavalo Caramelo é aplaudido na Expointer
Marcelo Ermel/Ulbra
Em Canoas, na Região Metropolitana, a imagem de um cavalo sendo resgatado do telhado de uma casa comoveu o Brasil no dia 9 de maio. Conhecido em todo o país, o animal foi batizado de Caramelo e virou um símbolo da resistência gaúcha. Em sua mais recente aparição pública, em agosto, Caramelo foi aplaudido pelo público durante o desfile dos campeões da Expointer — feira agropecuária realizada em Esteio.
“Desde as enchentes, ele segue sob os cuidados da Ulbra, sendo alimentado, escovado e tratado todos os dias”, afirma a médica veterinária Louise Maciel, que cuida da saúde de Caramelo.
Globocop flagra cavalo ilhado em Canoas, RS
O cavalo inspirou uma professora de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana. Carmen Regina Teixeira de Quadros inventou uma história para entreter a neta de 10 anos antes de ir dormir. O conto, que tinha Caramelo como protagonista, virou um livro infantil.
O livro “Caramelo, o cavalo corajoso e os amigos da enchente” aborda valores como coragem, resiliência, amizade, solidariedade e a importância de não desistir diante de adversidades.
“Em cada olhar de Caramelo eu enxergava uma mensagem para nós, gaúchos: a esperança que pulsa mesmo nas situações mais desesperadoras e a certeza de que, apesar das adversidades, devemos sempre nos manter firmes”, diz Carmen.
Professora Carmen Regina Teixeira de Quadros, autora de livro com história do cavalo Caramelo
Arquivo pessoal
Habitação, educação e saúde
Segundo o governo do estado, 1.791 pessoas seguem desabrigadas em razão das enchentes de maio. São famílias que estão em 40 centros de acolhimento ou alojamentos provisórios espalhados por 23 cidades. Em Encantado, no Vale do Taquari, 220 pessoas seguem abrigadas.
“Seis meses, nós estamos sem casa, sempre em abrigo, fica bem ruim. Agora nós estamos lutando para ver se nós vamos ganhar a casinha para ficar no nosso lar”, diz a dona de casa Sabrina Rodrigues, de Encantado.
Canoas, na Região Metropolitana, tem o maior número de desabrigados, com 499 pessoas fora de casa. Em Porto Alegre, são 377 pessoas.
Dona se casa Sabrina Rodrigues com o filho, que nasceu em maio, em abrigo de Encantado
Reprodução/RBS TV
Na Região das Ilhas, em Porto Alegre, 1,5 mil famílias ainda aguardam as novas casas prometidas depois da enchente. Até o início deste mês de novembro, apenas 16% dos cadastros haviam sido aprovados pelo governo. E isso não garante que as famílias vão conseguir se mudar para um novo endereço.
“A gente tem que estar morando em lugar desconhecido, bairros desconhecidos, filhos fora da escola… vivendo numa ilusão de que vão vir nos ajudar com alguma, digamos, uma migalha para nos ajudar”, diz o segurança Wagner Máximo.
O programa Compra Assistida, do governo federal, vai oferecer imóveis de até R$ 200 mil aos moradores que ficaram sem ter onde morar depois da enchente. São exigidos laudos que comprovem os danos nas casas para que os atingidos pela enchente possam receber o auxílio. No caso das ilhas, essas áreas não vão mais ser usadas para construção de casas por serem locais considerados inabitáveis. Por isso, o laudo foi coletivo.
Casas afetadas pela enchente na Região das Ilhas, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
A educação ainda sente os reflexos da enchente. Das mais de 2,3 mil escolas do RS, 17 seguem fechadas desde o desastre.
Também na Região das Ilhas, em Porto Alegre, o prédio de uma escola estadual está completamente interditado. O avanço das águas deixou o solo instável, e há risco de desabamento. Os mais de 800 alunos da Escola Almirante Barroso foram transferidos para outras instituições.
“Viram que a parte de trás do colégio estava caindo e decidiram nos transferir para Mabilde [outra escola da região. É um pouco mais abaixo aqui da Ilha da Pintada, é uma estrada boa, só que, infelizmente, a gente está tendo que dividir turma com outras escolas, outras turmas e é meio apertado lá também”, diz o estudante Luan Albino Lisboa Ferreira.
Escola Almirante Barroso, interditada por risco de desabamento, na Ilha da Pintada, em Porto Alegre
Mateus Bruxel/Agência RBS
Inundado em 4 de maio, o Hospital Pronto Socorro de Canoas foi reaberto para atendimentos de baixa e média complexidade no dia 30 de setembro. O funcionamento integral deve ocorrer a partir do próximo mês.
Conforme a assessoria da prefeitura, ainda restam os trabalhos de recuperação do bloco cirúrgico, da UTI e de equipamentos hospitalares como tomógrafos.
No dia 20 de maio, uma equipe do Jornal Nacional conseguiu entrar no hospital e mostrou a situação do local. A destruição surpreendeu os profissionais, que precisaram quebrar paredes para escoar a água durante o resgate de pacientes.
Antes e depois do Hospital de Pronto Socorro de Canoas
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