Irmã Rosita Milesi, religiosa e ativista brasileira, é premiada pela ONU por trabalho com refugiados


Por quase 40 anos, Rosita defende direitos e dignidade de pessoas em deslocamento. É a segunda vez que um cidadão brasileiro recebe o prêmio Ransen; em 1985, Dom Evaristo Arns foi premiado. Irmã Rosita Milesi vence prêmio da ONU por trabalho de amparo a refugiados
A religiosa e ativista brasileira Rosita Milesi, de 79 anos, foi reconhecida nesta quarta-feira (9) pela Organização das Nações Unidas (ONU) por seu trabalho, de 40 anos, de amparo a refugiados, migrantes, apátridas, e outras pessoas que necessitam de proteção internacional.
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Irmã Rosita é a segunda brasileira a receber o prêmio prêmio Ransen, do Alto Comissariado da Onu para Refugiados (Acnur). Em 1995, o ex-arcebispo de São Paulo Dom, cardeal Paulo Evaristo Arns ganhou o prêmio.
Por quase 40 anos, ela defende os direitos e a dignidade das pessoas que deixaram os países de origem, ajudando-as com abrigo, comida, assistência médica, treinamento em idiomas, empregos e documentação legal no Brasil.
“Sou inspirada pela crescente necessidade de ajudar, acolher e integrar refugiados. Não tenho medo de agir, mesmo que não alcancemos tudo o que queremos. Se assumo algo, vou virar o mundo de cabeça para baixo para fazer acontecer”, diz.
Nascida no Rio Grande do Sul, ela fundou o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com sede em Brasília e Roraima, que oferece assistência para refugiados e migrantes para conseguir tirar documentos, fazer aulas de português, arrumar emprego, arrumar vaga na escola para os filhos.
Rosita é uma das cinco mulheres do mundo homenageadas com neste ano. Ela ganhou a premiação global por seus esforços humanitários, enquanto as demais foram premiadas regionalmente (veja detalhes mais abaixo).
Todos os anos, o Prêmio Ransen homenageia um indivíduo ou organização que dedicou seu tempo e fez a diferença para proteger pessoas deslocadas à força de suas casas.
Formação e atuação
Irmã Rosita Milesi, diretora do IMDH
Reprodução/IMDH
Membro das Congregação das Irmãs Scalabrinianas, Rosita Milesi cursou direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Tornou-se advogada e concluiu o mestrado em migração e refúgio na Universidade Pontifícia Comillas, na Espanha.
Além de seu trabalho como ativista, ela também publica artigos acadêmicos sobre deslocamento e migração.
Ela se dedica à causa das migrações e do refúgio desde 1989, com atenção especial a refugiados na década de 1990. Em 1999, fundou o IMDH, do qual é diretora. Ela também é membro do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).
Além disso, Rosita Milesi coordena uma rede nacional, a RedeMir, formada por cerca de 70 organizações que atuam para fortalecer a solidariedade entre as pessoas em deslocamento internacional e as comunidades que as acolhem.
De acordo com a Acnur, as percepções políticas e a habilidade de persuasão de Irmã Rosita foram fundamentais na formulação da Lei Brasileira de Refugiados de 1997, “garantindo que ela proteja, inclua e empodere mais as pessoas forçadas a se deslocar, alinhando-se a padrões internacionais”.
“Ela também desempenhou um papel crucial ao reunir diversos interessados e mobilizar parlamentares na criação da Lei de Migração de 2017 no Brasil”, diz a agência da ONU.
O prêmio
Segundo a ONU, o Prêmio Ransen, do Alto Comissariado da Onu para Refugiados (Acnur), homenageia indivíduos e organizações excepcionais, dedicados ao apoio e à proteção de refugiados e pessoas deslocadas em todo o mundo. Concedido desde 1954, o prêmio “reconhece aqueles que demonstram coragem e compromisso únicos para melhorar a vida de comunidades em situação de vulnerabilidade”.
Irmã Rosita Milesi, de 79 anos
Divulgação/Acnur/Marina Calderón
Além de Rosita Milesi, que ganhou a premiação global, outra quatro mulheres foram homenageadas regionalmente pelo Prêmio Nansen para Refugiados:
Maimouna Ba (África): ativista que ajudou mais de 100 crianças deslocadas a retornarem à escola e colocou mais de 400 mulheres deslocadas em um caminho de independência financeira;
Jin Davod (Europa): empreendedora social que, com base em sua própria experiência como refugiada síria, criou uma plataforma online para conectar milhares de sobreviventes de traumas a terapeutas licenciados que oferecem suporte gratuito de saúde mental;
Nada Fadol (Oriente Médio e Norte da África): refugiada sudanesa que mobilizou ajuda essencial para centenas de famílias refugiadas que fugiram para o Egito em busca de segurança;
Deepti Gurung (Ásia-Pacífico): ativista que fez campanha para reformar as leis de cidadania do Nepal após descobrir que suas duas filhas haviam se tornado apátridas — abrindo um caminho para a cidadania delas e de milhares de outras pessoas em situação semelhante.
Os prêmios serão apresentados em uma cerimônia em Genebra, na Suíça, às 14h30 (horário de Brasília), na próxima segunda-feira (14).
Segundo a Acnur, o ano de 2024 “marca o reconhecimento da atuação de mulheres no contexto humanitário, destacando seu papel crucial na busca de soluções para que as pessoas deslocadas de forma forçada em todo o mundo estejam protegidas e integradas nas comunidades.”
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