Diques, comportas e casas de bombas: holandeses apontam problemas estruturais no sistema contra cheias em Porto Alegre


Avaliação realizada por engenheiros indica melhorias para controle das inundações. Comitiva esteve no RS em junho. Relatório de holandeses aponta problemas estruturais em diques
Uma avaliação realizada por engenheiros holandeses mostra a necessidade urgente de melhorias no sistema de proteção contra inundações em Porto Alegre. A capital gaúcha foi uma das 478 cidades afetadas pela enchente que assolou o Rio Grande do Sul no mês de maio, deixando 183 vítimas e 28 pessoas desaparecidas.
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A comitiva de especialistas do Reino dos Países Baixos (Holanda), que esteve em junho no Estado, elaborou um relatório com o objetivo de avaliar a estrutura atual do sistema de proteção contra cheias em Porto Alegre. O grupo analisou a capacidade de estruturas como as casas de bombas, diques e comportas (entenda abaixo) e apresentou os resultados em uma coletiva na segunda-feira (19).
“O desastre aconteceu por uma razão bastante simples: o desenho do sistema foi feito para um certo nível de água, uma enchente de uma certa magnitude, e o evento que aconteceu foi simplesmente maior”, explica Ben Lamoree, conselheiro Institucional da Agência Empresarial Holandesa.
Para Lamoree, o que aconteceu em Porto Alegre é comparável a um morador que constrói um pequeno muro no quintal de sua casa, acreditando que a água não ultrapassará a altura determinada, uma vez que nunca havia chegado a esse nível antes. No entanto, um evento climático extremo ocorre e a água transborda o muro da residência.
Beira do Guaíba mostra enchente em Porto Alegre no dia 8 de maio de 2024
Nelson Almeida/AFP
“Quando se desenvolve o desenho de um sistema de proteção contra enchentes, há uma deliberação sobre até que nível a cheia tem que resistir. O sistema aqui tinha uma base muito bem definida, que é a grande cheia de 1941, que de fato é uma abordagem muito boa […]. Portanto, assim é que foi concebido e construído e estava a funcionar, mas quando acontece um evento maior, o sistema simplesmente não é capaz de funcionar”, contextualiza o engenheiro que liderou o grupo.
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De acordo com o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), no pico da enchente em maio, cerca de 20 a 30 milhões de litros por segundo passaram por Porto Alegre no lago do Guaíba.
Comportas, casas de bombas e diques
Durante a análise, os especialistas identificaram problemas com as comportas e com as casas de bombas.
“São todos (problemas) reais que são também importantes, mas nada poderia ter impedido o resultado. A cheia simplesmente foi demais para poder ser resistido pelo sistema atual”, conta o engenheiro holandês.
Outro ponto crítico identificado pelos holandeses foi a construção irregular de moradias em cima e ao redor de diques, o que enfraquece a capacidade de proteção.
Dique rompido entre moradias na Zona Norte de Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
“Esse tipo de construção simplesmente não é permitida, e eu estou a falar de forma técnica. Não estou a falar de forma jurídica. Não é permitido simplesmente porque isso enfraquece o dique e assim põe em perigo a segurança contra a enchente. […] Essas situações deviam ser evitadas, sempre”, diz Lamoree.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) de Porto Alegre deve iniciar obras emergenciais ainda neste mês de agosto para reforçar a proteção da cidade. Entre as ações estão a elevação dos diques da Zona Norte, como o da Fiergs e o do bairro Sarandi, que atualmente possuem uma altura de 4,30 metros e serão elevados para cerca de seis metros.
Ainda, segundo o diretor do Dmae, Maurício Loss, novas comportas, mais robustas, substituirão as que foram instaladas entre 2010 e 2011 e que se mostraram inadequadas. Sete comportas devem ser fechadas com concreto e outras serão substituídas por uma estrutura de aço mais resistente.
As casas de bombas também passarão por reformas para garantir um funcionamento eficaz.
“Todas as soluções de casas de bombas estão sendo devidamente construídas através de anteprojetos que muito em breve, certamente agora no início do mês de setembro, nós já vamos começar com obras”, conta Loss.
Casa de Bombas se rompe e água invade Centro Histórico de Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
O pedido por uma melhora dos sistemas de proteção é, acima de tudo, dos moradores das regiões atingidas pela cheia.
“Nós precisamos urgentemente que eles resolvam o problema das casas das bombas, senão dá outra chuva dessa aí e como é que nós vamos ficar?”, questiona o aposentado Altari Vicentini.
Medidas a curto prazo
O relatório ainda sugere que medidas a curto prazo sejam implementadas antes da próxima estação chuvosa em setembro.
“Nós temos, de praxe, chuvas fortes em setembro. […] Dados do Governo do Estado, da sala de situação, não há uma previsão de chuvas acima da média, tanto para agosto quanto para setembro, ou seja, uma média de em torno de 150 milímetros. O que isso, então, de certa forma nos tranquiliza”, diz o diretor do Dmae.
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